Come chocolates, Portugal, come

Costa, nas reacções à candidatura da Ucrânia à UE, tem demonstrado grande nervosismo, pois trata-se de uma enxurrada de candidaturas que se estendem até aos Balcãs. Uma fila de espera impaciente de um grupo crescente que também “quer ir ao banco”.

A última década de Portugal, pode ser definida sinteticamente através de duas simples frases, proferidas por dois primeiro-ministros: “Emigrem” e “Já posso ir ao banco?”

Na primeira, Passos Coelho reconhecia explicitamente a impotência de Portugal para oferecer futuro, expectativas e sonhos para toda uma geração formada em liberdade.

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Pedro Passos Coelho enric vives-rubio

Perante o paradoxo e o drama, formulei aqui no PÚBLICO a pergunta: “Quando vai Portugal pousar a mala e levantar a cabeça?

Pelos vistos, não será brevemente. Os que ficaram constituem uma geração perdida, sem capacidade financeira para adquirir habitação, sem trabalho e, consequentemente, sem capacidade para constituir família, num país devastado por um enorme problema demográfico.

Nem sei se ainda se pode denominar Portugal um país, esta região Ibérica reduzida a um protectorado da Europa e assumidamente subsídiodependente. Dependência oficialmente e explicitamente reconhecida pela frase de Costa : “Já posso ir ao banco?”

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Tiago Petinga/Lusa

Em 2019, o crescimento do PIB potencial de Portugal rondava 1,5% ao ano, um dos mais baixos da União Europeia, com uma perda progressiva de produtividade e competitividade. Nos últimos 20 anos, Portugal cresceu 0,5% ao ano.

PIB, completamente dependente do Turismo e da espiral inflacionada do Imobiliário. PIB, ou seja, turismo de massas e golden visas, fenómenos altamente destruidores da identidade local e dos necessários equilíbrios quotidianos de vivência e estabilidade residencial. A isto, foram acrescentadas vantagens fiscais oferecidas ao investidores internacionais, em profundo contraste com a esmagadora carga fiscal dos autóctones que usufruem, na melhor das hipóteses, de ordenado médio de 1500 euros mensais.

O já incomportável custo de vida vai ser fortemente agravado pela tempestade perfeita futura da conjugação de inflação galopante com a inevitável correcção do BCE com aumento progressivo das taxas de juro.

Que tenciona fazer António Costa com o apoio total a fundo perdido de 15.628 milhões de euros proporcionado pela protectora Europa através do PRR?

Apesar das preocupações expressas por Christine Lagarde sobre os perigos de fragmentação a que a Europa do Sul está exposta, todos sabemos que a grande fonte de preocupação reside na fragilidade da Itália e da sua dívida, devido à importância da escala da economia deste país fundador do mercado comum, capaz na sua implosão de levar à extinção do euro.

Não se trata, portanto, do insignificante e periférico Portugal, país que reduziu os seus habitantes a estalajadeiros e guias turísticos, mas da Itália.

Costa tem, nas suas reacções à volta da Ucrânia e da candidatura desta à adesão à UE, demonstrado grande nervosismo, pois trata-se de toda uma enxurrada de candidaturas que se estendem até aos Balcãs. Uma fila de espera intensa e impaciente de um grupo crescente que também “quer ir ao banco”.

Come chocolates, Portugal, come. Come e cala-te, periférico!

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