Afinal, Tadej Pogacar falha como os demais
A equipa Jumbo fez um “all-in” na etapa 11 da Volta a França e conseguiu abater Tadej Pogacar. Jonas Vingegaard é o novo camisola amarela.
Pela primeira vez na carreira, Tadej Pogacar mostrou laivos de humanidade numa “Grande Volta”. O bicampeão do Tour perdeu nesta quarta-feira a camisola amarela da Volta a França, sendo “abatido” por Jonas Vingegaard na subida ao Col du Granon, nos Alpes.
Quando o dinamarquês da Jumbo decidiu atacar, Pogacar – que minutos antes tinha sorrido para a televisão, mostrando algum conforto – ficou “a pé” (foto em baixo). Era bluff de alguém que ia no limite? Talvez. Mas o melhor bluff foi mesmo o da Jumbo, que preparou este golpe de teatro durante toda a etapa, obrigando Pogacar a responder repetidamente a ataques de Vingegaard e Roglic em zonas menos duras do percurso – desgastantes, ainda assim.
Este dia mostrou que Pogacar tem limites e que também ele vacila como os demais, depois de chegar completamente vazio de energias e a quase três minutos do vencedor do dia. Mas mostrou também que neste esloveno há uma figura ímpar: após ter perdido a amarela, ter vacilado desta forma na primeira vez na carreira e estar completamente vazio de forças, foi abraçar Vingegaard com um sorriso na cara e subiu ao pódio para receber a camisola branca também com um largo sorriso.
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Neste momento, Vingegaard é o líder da Volta a França, com 2m16s de vantagem para Romain Bardet e 2m22s para Pogacar, que não conseguiu acompanhar sequer o ritmo de outros rivais teoricamente menos capazes. Nota ainda para a grande etapa do veterano Nairo Quintana, que chegou em segundo lugar, renasceu quando já poucos davam algo por ele e subiu ao quinto lugar da classificação.
No final do dia, Vingegaard explicou como foi a decisão de atacar na última subida: “No Col du Galibier, o Pogacar estava forte e eu estava um pouco inseguro se ele ia bem ou não. Mas depois na última subida estava a pensar que se não tentasse nunca iria ganhar. Agora é lutar pela amarela até Paris”.
Jumbo fez “all-in”
Fossem quais fossem os nomes em foco, o momento dos ataques ou o local onde seriam feitos, para esta quarta-feira algo era garantido: haveria espectáculo na luta pelo triunfo na Volta a França.
Com a equipa Emirates destruída pela falta de pernas, em alguns casos, e pela covid-19, noutros, a Jumbo quis apostar tudo nesta etapa. Começou por colocar Wout van Aert e Laporte na fuga do dia (eram 20 ciclistas), prevendo que ambos viessem a ser úteis a Vingegaard e Roglic mais à frente na etapa.
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No início da descida após a escalada ao Col du Telegraph começou a “festa” da Jumbo. Houve ataque de Roglic na descida e vários candidatos ao triunfo, que não esperavam a movimentação, foram apanhados distraídos. Ficou um grupo com Pogacar, Vingegaard, Roglic, Thomas e Laporte, outro Jumbo que tinha ficado da frente (tudo planeado desde o início). Pogacar já saberia que ficaria sozinho neste dia, mas provavelmente nunca pensou que fosse a uns longínquos 60 quilómetros da meta.
Tudo parecia perfeito para a Jumbo, excepto um detalhe: Laporte, que tinha andado em fuga, não aguentou muito tempo a trabalhar, pelo que Roglic e Vingegaard foram obrigados a colocar o “peito ao vento” para atacarem Pogacar.
O esloveno e o dinamarquês atacavam Pogacar à vez na parte plana da subida ao Galibier, mas o campeão do Tour respondia sempre sem grande problema. E o que estava a acontecer era lançar para o mundo uma simples pergunta: quais são os limites de Pogacar? Até ver, não existiam.
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A 50 quilómetros da meta, já com o ritmo mais lento e os restantes favoritos “recolados”, surgiu um momento agridoce para Pogacar: primeiro Soler saltou do pelotão para ir ajudá-lo, mas logo a seguir chegou um grupo alargado com os restantes candidatos – não vinha lá nenhum Emirates, mas chegaram mais três Jumbo e três Ineos. E um novo ataque deixou a corrida ainda pior para Pogacar: um grupo de oito no qual metade eram da Jumbo. Os outros eram Pogacar, Thomas, Quintana e Bardet.
Até que… Roglic “rebentou”. O esloveno pagou caro o esforço nos ataques a Pogacar e o grupo ficou reduzido aos quatro candidatos definitivos: Pogacar, Vingegaard, Thomas e Bardet, ainda que a seguir ao Galibier outros tenham conseguido juntar-se – temporariamente, até começar a escalada ao Col du Granon.
Pogacar abatido
Numa fase em que Wout van Aert esperava por quem vinha atrás, a Jumbo surpreendeu ao não deixar o belga com Vingegaard, mas sim ainda mais para trás – a ideia era Van Aert tentar recolocar Roglic na frente da corrida (estava a pouco mais de um minuto). A Jumbo não queria queimar já o esloveno para o Tour, podendo manter duas cartas contra Pogacar.
Esta poderia ser uma jogada genial – assim Roglic respondesse a preceito no Granon – ou uma mão cheia de nada – caso Roglic, “sem pernas”, mostrasse que esta opção apenas retirou a Vingegaard a ajuda de Van Aert.
A resposta chegou logo no início do Granon, quando Roglic foi… o primeiro a ceder. A opção de pedir a van Aert para ir buscar Roglic revelou-se assim inútil, até porque quando trouxe o colega, van Aert trouxe também o Emirates Majka, que ainda ajudou Pogacar durante vários quilómetros do Granon.
E por falar em tácticas bizarras, Quintana decidiu sair do grupo dos favoritos perseguindo o líder da etapa, que era… o seu colega de equipa Warren Barguil, o mais resistente dos fugitivos, mas que não resistiu muito mais.
A quatro quilómetros e meio da meta, Vingegaard atacou e Pogacar mostrou fragilidades. O trabalho da Jumbo durante o dia, obrigando Pogacar a responder sozinho a vários ataques, estava, por fim, a dar frutos à equipa neerlandesa.
Pogacar ficou “a pé”, tal era a diferença de ritmo para Vingegaard, que seguiu sozinho Col du Granon fora. O dinamarquês venceu a etapa, mostrou que está mais forte do que Pogacar – quem diria? – e vai para as próximas etapas com o conforto de uma vantagem considerável para gerir.
Para esta quinta-feira está agendada mais uma etapa bastante dura, com três contagens de montanha de categoria especial. O final será no mítico Alpe d’Huez.