O único responsável por incêndios é a acção humana, como diz António Costa?

O primeiro-ministro dirigiu-se aos portugueses em Coimbra, antes de visitar a sala de operações e comando da Unidade de Emergência de Protecção de Socorro da GNR.

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“Os incêndios só ocorrem se uma mão humana, voluntariamente ou por distracção, os tiver provocado”, disse António Costa LUSA/PAULO CUNHA

A frase

“Os incêndios só ocorrem se uma mão humana, voluntariamente ou por distracção, os tiver provocado.”

António Costa, primeiro-ministro

O contexto

A propósito dos incêndios que se têm registado em Portugal, na segunda-feira, em Coimbra, António Costa visitou a sala de operações e comando da Unidade de Emergência de Protecção de Socorro (UEPS) da Guarda Nacional Republicana (GNR). Mas antes, o primeiro-ministro dirigiu-se aos portugueses: “Temos hoje uma estrutura mais robusta, temos hoje mais meios aéreos, mas isso não previne os incêndios... Os incêndios só ocorrem se uma mão humana, voluntariamente ou por distracção, os tiver provocado... Somos nós cidadãos comuns e somos nós que temos que fazer este trabalho fundamental para evitar incêndios”.

Os factos

De acordo com o último relatório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em 2021, as causas mais frequentes de incêndios são o uso negligente do fogo (47%) e o incendiarismo por parte de indivíduos imputáveis (23%).

No uso negligente do fogo enquadram-se as queimadas extensivas (para gestão de pasto e de sobrantes florestais ou agrícolas), queimas (de lixo e de amontoados de sobrantes) e realização de fogueiras.

Além do uso do fogo e do incendiarismo, destacam-se os incêndios despoletados por causas acidentais, nos quais se incluem os causados por transportes e comunicação e pelo uso de maquinaria.

Incêndios causados por transportes e comunicação podem ser motivados, por exemplo, por ignições nas linhas eléctricas (como aconteceu em Monchique, em 2018). O uso de maquinaria, por sua vez, pode justificar-se com a criação de faíscas ao manusear máquinas agrícolas, como motorroçadoras.

Além das causas mencionadas – todas elas fruto de uma “mão humana” - as que menos causam incêndios, relata com o ICNF, são as naturais. Em 2021, apenas 2% dos incêndios foram provocados pela queda de raios (que no Verão acontece, em grande parte, devido a trovoadas secas).

Até ao momento, neste ano, mais de 60% das ocorrências de incêndio se deveram a uso negligente do fogo, avançou a GNR. Segundo a autoridade, já se registaram 2460 crimes de incêndio florestal e foram efectuadas 44 detenções. Foram ainda identificados 497 suspeitos.

Em suma

Apesar de a maioria dos incêndios ser causada pela “mão humana”, expressão usada por António Costa, esta não é a única justificação. Dizer que os incêndios “só ocorrem” se uma acção humana (voluntária ou não) os provocar é errado, já que as causas naturais (nomeadamente a queda de raios) estiveram na origem de 2% dos incêndios que o país registou em 2021. Deste modo, a afirmação de António Costa é falsa.