Conhecido opositor cubano detido pela segunda vez em pouco tempo

Guillermo Fariñas, prémio Sakharov 2010, foi levado na sexta-feira da sua casa em Santa Clara, dias depois de ter sido detido e ameaçado para não andar a escrever coisas nas redes sociais.

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Guillermo Fariñas já foi preso político em três ocasiões diferentes Daniel Rocha

Um dos mais conhecidos activistas da oposição cubana voltou a ser detido, na sexta-feira, por agentes de segurança na sua casa em Santa Clara, cidade no centro de Cuba. A denúncia foi feita pelos seus familiares nas redes sociais, numa altura em que desconheciam o seu paradeiro.

De acordo com uma publicação no Twitter de Haisa Fariñas, filha do activista que foi prémio Sakharov em 2010, Guillermo Fariñas está detido na Unidade Provincial de Operações do Departamento de Segurança do Estado (DSE).

“Só permitiram a entrada à minha avó a esta unidade para que o pudesse ver e levar-lhe os seus medicamentos, comida e produtos de higiene pessoal”, escreveu.

A mesma Haisa Fariñas havia denunciado a detenção do pai que teria sido levado para parte incerta pelas patrulhas 266 e 250, sem que o DSE lhe desse informações sobre o seu paradeiro, como contou à Radio Televisón Martí.

Face à proximidade do primeiro aniversário dos protestos de 11 de Julho de 2021, os maiores em 30 anos em Cuba, as autoridades cubanas parecem ter aumentado as perseguições, ameaças e as detenções de opositores, activistas e jornalistas para evitar que saiam esta segunda-feira à rua para assinalar a efeméride.

Fariñas, que já foi preso político três vezes e está habituado a ser levado pela polícia, já tinha sido detido a 30 de Junho. Como o líder do Fórum Antitotalitário Unido (Fantu) contou depois, foi nessa altura ameaçado com uma acusação de rebelião e incitamento à guerra se continuava a “emitir instruções” para uma nova revolta social. Disseram-lhe, então, para “pensar muito bem nas coisas” que escreve nas redes sociais.

Mas Guillermo ‘Coco’ Fariñas não levou a sério a advertência da segurança do Estado e chegou mesmo a escrever no dia 5 no Twitter uma curta mensagem: “Quando uma ditadura totalitária começa a assassinar os seus próprios cúmplices e ajudantes, é um sinal de colapso”.

Dias antes, falando sobre a morte de Zidan Batista em Santa Clara, um jovem de 17 anos morto a tiro pela polícia, num canal de YouTube, Fariñas acusou a polícia de ter morto a tiro o jovem. Os agentes da polícia terão ferido Zidan com um tiro no ombro, para o imobilizar, depois deste os ter ameaçado com um machete, mas quando já estava no chão e não representava qualquer perigo, acabaram por matá-lo com novo tiro.

A denúncia valeu-lhe logo ficar sem saldo na conta da Internet, como divulgou Haisa Fariñas no Twitter: “A empresa ETECSA [Empresa de telecomunicações de Cuba], em cumplicidade com a segurança do Estado, deixaram 0,04 centavos de dólar na conta de Internet do meu pai, Coco Fariñas, que havia sido recarregada recentemente, por causa das denúncias feitas por este através do Facebook em relação ao assassínio do menor Zidan Batista”.

Na página Cuba Antitotalitária, Fariñas havia deixado, no dia 3, o comunicado do Conselho Nacional da Fantu, em que se define a morte do jovem como represália pela sua participação nos protestos de 11 de Julho do ano passado (e que lhe tinham valido 23 dias na prisão).

“As três mães depoentes e testemunhas presenciais do desnecessário assassínio do menor de idade Zinadine Zidan Batista Álvarez por um polícia, têm a dolorosa suspeita de que o sangrento incidente foi uma vingança política e uma execução extrajudicial, pelo facto do assassinado ter participado na rebelião popular massiva do passado ano 2021, na data de 11 de Julho ou, simplesmente, 11-J”, diz o comunicado.

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