Novak Djokovic acentua domínio na relva de Wimbledon
Nick Kyrgios não conseguiu vencer mais do que um set na sua estreia em finais de torneios do Grand Slam e viu o adversário conquistar o 21.º major na carreira.
Novak Djokovic ainda brincou quando disse que Nick Kyrgios perdeu a final do torneio de Wimbledon para não ter de lhe pagar um jantar, como ambos tinham combinado, só que a verdade é mais crua: o sérvio está vários furos acima quando se trata de discutir uma final de um torneio do Grand Slam. Kyrgios tem muito talento, mas não tem a concentração, o controlo emocional e consistência exigidos para chegar ao nível seguinte. E foi sem surpresa que, ao fim de quatro sets, Djokovic conquistou o sétimo título em Wimbledon e 21.º major da carreira.
Kyrgios, que chegou a Londres ocupando o 40.º lugar do ranking, jogou como um potencial campeão no primeiro set: calmo, controlado, a colocar em campo o seu jogo variado em efeitos e velocidade, somando ases, mas também arriscados segundos serviços que ajudaram a evitar break-points. Mais instável, Djokovic colaborou e, com uma dupla-falta, cedeu o break no quinto jogo. O australiano confirmou a vantagem com dois jogos de serviço em branco e, pelo terceiro encontro consecutivo, Djokovic perdeu o set inicial - agora, é o primeiro campeão a ceder o primeiro set nos quartos-de-final, meia-final e final desde Ted Schroeder, em 1949.
Mas tal como nessas derradeiras rondas, Djokovic elevou o nível e, no quarto jogo, logrou algo que nunca tinha conseguido nos embates anteriores com Kyrgios: quebrou o serviço do australiano. O sérvio ainda teve de recuperar de 0-40 e anular quatro break-points antes de fechar a partida, mas o ascendente no encontro mudou definitivamente.
Os sinais de frustração de Kyrgios foram aumentando - primeiro, queixando-se de uma espectadora que o incomodava, depois, por ter consentido mais um break, a 4-4 do terceiro set, depois de servir a 40-0 - e só no quarto set recuperou alguma tranquilidade para jogar a um nível alto. Sem break-points, o set só se resolveu no tie-break, mas Kyrgios começou mal, com uma dupla-falta, e a solidez do sérvio continuou a prevalecer até concluir ao fim de três horas, com os parciais de 4-6, 6-3, 6-4 e 7-6 (7/3).
“O meu nível está lá. Disputei uma final do Grand Slam com um dos melhores de sempre e estive ao mesmo nível. É necessário ser-se um grande atleta, mental e fisicamente, para ganhar uma coisa destas. Penso que apenas oito pessoas venceram este torneio desde que eu nasci. Parabenizo Federer, Djokovic e Nadal. O que estes tipos tiveram enfrentar é de loucos. E esse é o sinal dos campeões”, salientou Kyrgios, antes de acrescentar: “Se tivesse realizado um tie-break mais sólido no quarto set e forçado uma quinta partida, qualquer um podia ganhar”.
O australiano, que vencera os dois duelos anteriores, ambos em 2017, reconheceu a diferença entre o circuito ATP e os Grand Slams. “Nos dois anteriores jogámos à melhor de três sets e ele sentiu mais a pressão do resultado, depois de perder o primeiro set. Nos majors, mesmo ganhando o primeiro set frente a estes jogadores, sentimos que ainda temos uma montanha pela frente. Voltei a dormir muito mal, mas isso vem com a experiência”, admitiu o vice-campeão.
Djokovic voltou a erguer o troféu de campeão de Wimbledon, no dia em que assinalava o oitavo aniversário do seu casamento, e concordou com essa diferença entre ambos. “Acho que lidei bem com as coisas. Ele jogou alguns pontos de forma descontraída, fez dupla-falta, começou a falar com o seu camarote e senti que esse era o momento em que podia quebrar o seu serviço, o que aconteceu”, explicou o sérvio.
Djokovic tem agora menos um título em Wimbledon do que o recordista, Roger Federer, mas estabeleceu um máximo de nove títulos do Grand Slam após completar 30 anos. Ao ganhar quatro títulos consecutivos no All England Club, imita Björn Borg, Pete Sampras e Roger Federer.
Depois de ter sido impedido de competir no Open da Austrália e eliminado em Roland Garros por Rafael Nadal, esta era a grande oportunidade que Djokovic tinha de conquistar mais um grande título. “Nos primeiros meses do ano, não estava bem mentalmente. Tudo o que se passou após a Austrália tem sido um enorme desafio e obstáculo para ultrapassar emocionalmente. Percebi que é preciso tempo para reencontrar o equilíbrio”, contou.
E talvez tenha sido a única grande conquista em 2022, pois, se se mantiverem as medidas em vigor nos EUA, o sérvio não poderá actuar no US Open por não estar vacinado - a mesma razão que o afastou do major australiano. “Não sou vacinado, nem está nos meus planos vacinar-me. Vou esperar que venham boas notícias dos EUA”, adiantou.
E como não são atribuídos pontos para o ranking nesta edição de Wimbledon, Djokovic vai surgir hoje no sétimo lugar da tabela ATP.