A desflorestação na floresta amazónica do Brasil atingiu um recorde nos primeiros seis meses do ano, uma vez que uma área cinco vezes maior do que a cidade de Nova Iorque foi destruída, revelam os dados preliminares do governo apresentados esta semana. De Janeiro a Junho, 3988 km quadrados foram desmatados na região, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Traduzindo os danos para uma realidade mais próxima dos portugueses, se considerarmos apenas a área urbana da Lisboa (100 quilómetros quadrados) o estrago equivale a quase 40 cidades de Lisboa.
Isto representa um aumento de 10,6% em relação aos mesmos meses do ano passado e o nível mais elevado para esse período desde que a agência começou a compilar a sua actual série de dados DETER-B em meados de 2015. A destruição aumentou 5,5% em Junho para 1120 km quadrados, também um recorde para esse mês do ano.
Em Abril, o desmatamento na floresta da Amazónia brasileira já tinha também atingido um infeliz recorde, quase duplicando a área de floresta que foi removida em Abril de 2021.
A Amazónia, a maior floresta tropical do mundo, contém vastas quantidades de carbono, que é libertado à medida que as árvores são destruídas, aquecendo a atmosfera e provocando alterações climáticas. A desflorestação está a penetrar cada vez mais para dentro da floresta. Nos primeiros seis meses do ano, o estado do Amazonas, no coração da floresta tropical, registou pela primeira vez mais destruição do que qualquer outro estado.
Numa notícia divulgada na Reuters é mencionada uma testemunha que terá confirmado que recentemente várias áreas foram desmatadas perto da estrada a oeste da capital do estado do Amazonas, Manaus, onde a exuberante selva tinha sido transformada em extensões cheias de árvores caídas e secas.
A crescente desflorestação deste ano está também a alimentar níveis invulgarmente elevados de incêndios, que provavelmente se agravarão nos próximos meses, disse Manoela Machado, uma investigadora de incêndios e desflorestação no Woodwell Climate Research Center e na Universidade de Oxford. O Brasil registou o maior número de incêndios na Amazónia no mês de Junho em 15 anos, embora esses incêndios sejam uma pequena parte do que é normalmente visto quando os incêndios atingem o seu pico em Agosto e Setembro, de acordo com dados do INPE.
Geralmente, após os madeireiros extraírem madeiras valiosas, os fazendeiros e os apanhadores de terras ateiam fogos para limpar as terras para a agricultura. “Se tivermos números elevados de desflorestação, é inevitável que tenhamos também números elevados de incêndios”, constata Manoela Machado. “Isto são péssimas notícias.”
Especialistas no Brasil culpam o presidente Jair Bolsonaro por ter reduzido as protecções ambientais e por incentivar os madeireiros, fazendeiros e especuladores de terras que desbravam terras públicas para fins lucrativos. O gabinete de Bolsonaro fez um pedido oficial para um comentário do Ministério do Ambiente, que respondeu que o governo tem sido “extremamente enérgico” no combate aos crimes ambientais.
O ministério disse que, considerando os 12 meses até Junho, os dados do INPE mostraram que a desflorestação diminuiu 3,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Para uma reviravolta na política ambiental do Brasil, os ambientalistas apostam no ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que presidiu a um declínio acentuado da desflorestação durante a sua presidência de 2003 a 2010. Uma sondagem divulgada esta semana sugere que Bolsonaro estará a perder para Lula por 19 pontos percentuais. As próximas eleições presidenciais no Brasil estão marcadas para o dia 2 de Outubro.
Independentemente disso, este ano é provável que haja níveis elevados de desflorestação e incêndios, uma vez que os madeireiros e os apanhadores de terras procuram capitalizar a fraca aplicação da lei antes de uma potencial mudança no governo, dizem os especialistas. “É muito difícil ser optimista sobre os próximos meses na Amazónia”, conclui Romulo Batista, um activista florestal da Greenpeace Brasil.