José Eduardo dos Santos “pode ser o caso do primeiro asilo político a um morto”, diz a filha
Tchizé dos Santos garante que vai lutar para impedir que o corpo de ex-Presidente de Angola seja enviado para Luanda, para que João Lourenço não possa enterrar o seu pai.
Welwitschia José ‘Tchizé’ dos Santos está disposta a defender o seu direito enquanto filha até às últimas consequências, guardando o corpo do pai, o ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, num jazigo em Espanha até que haja condições para que os seus restos mortais possam ser enterrados em Angola. E quando diz condições, quer dizer, depois de João Lourenço deixar de ser Presidente.
“Este pode ser o caso do primeiro asilo político a um morto”, afirmou a ex-deputada do MPLA num longo vídeo ao vivo na sua conta do Instagram. “Não vamos enterrar José Eduardo dos Santos em Angola enquanto João Lourenço for Presidente”, insistiu a ex-deputada. “Não vamos permitir que esse corpo vá para Angola.”
Tchizé dos Santos acusa o Presidente João Lourenço de estar em conluio com Ana Paula dos Santos, a última mulher do antigo chefe de Estado, de quem diz estar “separada de facto” do seu pai há cinco anos e de ter aparecido apenas nestes dois últimos meses por interesse.
Afirma a ex-deputada que se Ana Paula dos Santos levar a sua avante, não sendo ela já a “esposa legítima”, que se tratará de um caso de “sequestro internacional” e, como tal, promete “meter a Interpol nisso”.
A filha de Eduardo dos Santos contratou uma advogada em Espanha, Carmen Varela, para entrar com uma providência cautelar de modo a impedir que o corpo seja entregue a Ana Paula dos Santos, que não chegou a divorciar-se do ex-Presidente, e levado para Angola.
O Governo angolano enviou o Procurador-geral de Angola, Hélder Pitta Gros, a Barcelona, junto com outros elementos da procuradoria, para tratar dos formalismos legais com a clínica e a Justiça espanhola para a transladação do corpo, de maneira a que se possa realizar o funeral de Estado para aquele que foi o líder do país durante 38 anos.
Lourenço já criou uma comissão interministerial para tratar das exéquias, coordenada pela ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, composta por 11 ministros e a governadora de Luanda, Ana Paula de Carvalho.
De acordo com as afirmações da filha de Eduardo dos Santos, militares angolanos estariam a impedi-la de velar o seu pai.
Num longo monólogo de improviso de mais de uma hora, Tchizé dos Santos acusa muitas vezes João Lourenço de ser o vilão nesta história, alguém que estaria a querer organizar as cerimónias fúnebres para se regozijar da morte do seu inimigo – embora José Eduardo dos Santos tenha sido Presidente de Angola e, como tal, ter direito a um funeral de Estado.
A história está agora pendente da decisão da justiça espanhola sobre a providência cautelar para que a clínica Teknon, em Barcelona, entregue o corpo do ex-Presidente angolano à viúva, para que seja levado para Angola, ou às filhas, ela e Isabel do Santos, para que sejam estas a decidir. Aliás, que seja a primogénita, Isabel dos Santos, afirma a irmã.