Morreu Tony Sirico, o Paulie “Walnuts” de Os Sopranos
Para David Chase, autor da emblemática série, ele “era a principal razão do sucesso de Os Sopranos”. Morreu na Florida, aos 79 anos, depois de uma carreira em que emprestou o rosto e o corpo a muitos mafiosos.
O actor norte-americano Tony Sirico, sobretudo conhecido pela sua personagem Paulie “Walnuts” na série de prestígio Os Sopranos mas também pela sua participação regular em filmes de Woody Allen, morreu sexta-feira aos 79 anos na Florida. A informação foi prestada pelo seu agente, Bob McGowan, que não revelou quais as causas da sua morte — mas era público que o actor sofria de uma forma de demência.
Nascido em 1942 em Nova Iorque, Sirico só se tornou actor nos anos 1970 depois de cumprir o serviço militar. Antes disso foi detido 28 vezes, a primeira das quais com sete anos por roubar uns tostões numa banca de jornais, disse numa entrevista ao Los Angeles Times publicada em 1990. Adorava o seu bairro italo-americano de Bensonhurst e cresceu como “um tipo armado”. Com pistolas, reais. “No meu bairro, se não estávamos com uma arma, éramos como coelhos na época da caça ao coelho.” Foi nas actuações de grupos amadores na prisão (só foi de facto condenado a cumprir pena duas vezes) que percebeu que podia fazê-lo também — actuar.
Cresceu, como descreve o diário norte-americano The Washington Post, entre os mafiosos que acabaria por retratar numa série emblemática que tem perdido os seus intérpretes — James Gandolfini, o protagonista Tony Soprano, morreu em 2013, Frank Vincent (Phil Leotardo) morreu em 2017, e Paul Herman (“Beansie” Gaeta) morreu em Março último. Pauly Walnuts não era o seu único “wise guy": foi Tony Stacks em Tudo Bons Rapazes (1990) e, numa das suas várias colaborações com Woody Allen, foi Rocco em Balas Sobre a Broadway (1994). Com Allen foi ainda actor em Poderosa Afrodite (1995), Toda a Gente Diz Que Te Amo (1996), As Faces de Harry (1997), Celebridades (1998), Café Society (2016) e Roda Gigante (2017). Do seu currículo são ainda conhecidos os trabalhos em Cop Land - Zona Exclusiva (1997) e Mickey Blue Eyes (1999). Contracenou com Dennis Hopper, Harvey Keitel, Gabriel Byrne e até 1990 tinha aparecido em 27 filmes — e morrido em 13 deles.
Um dos seus grandes amigos, o actor James Caan, que morreu esta semana, descreveu no Los Angeles Times como Sirico transformou a sua experiência de juventude no seu trabalho. “É engraçado, mas agora que ele está limpo, ele consegue agir como um ‘wise guy’. Conseguiu romantizar o seu passado, adicionar-lhe uns adornos e uns brilhos e usá-lo como um actor. O que vêem é mesmo ele — ele só lhe junta um bocadinho de pimenta, um bocadinho de caiena, para a apimentar.”
As reacções à sua morte já estão a correr nas redes sociais, com o actor Michael Imperioli, Christopher Moltisanti em Os Sopranos, a descrever o seu “coração partido” perante a perda da sua contracena: “Encontrámos um ritmo como Christopher e Paulie e orgulho-me por poder dizer que fiz muito do meu melhor trabalho — e do mais divertido — com o meu querido amigo”, escreveu no Instagram. No Twitter, foi Stevie Van Zandt, que interpretou Silvio Dante em Os Sopranos, que recordou um actor “lendário” que era também “uma personagem maior do que a vida no ecrã e fora dele”.
Foi através de um comunicado que David Chase, criador de Os Sopranos e de outras séries subsequentes de respeito, reflectiu sobre a morte de “uma jóia” de actor. “No sentido em que os budistas se referem a uma jóia — sobrenatural e um mestre. Mas seguramente não um mestre zen”, atentou, porque o recorda como “tão ruidoso, tão engraçado, tão talentoso”.
Chase congratula-se pelo facto de Sirico ter, revela, finalmente reconciliado a sua imagem profissional com a qualidade que detinha. “Quando tinha entre 50 e 60 anos finalmente soube quão talentoso e amado era.” David Chase diz mesmo que, na véspera da morte do capanga que criou para o pequeno ecrã, estava a pensar nele e a lembrar-se de que “ele era a principal razão do sucesso de Os Sopranos.”
O seu primeiro filme foi em 1974, Crazy Joe, mas só é creditado com um verdadeiro primeiro papel em 1977 no drama Anjos no Inferno. Fez vozes para Family Guy e American Dad, entrou em Miami Vice, Chuck, Medium ou The Grindr.