Ministro e sindicatos criticam retrato das escolas feito pelos rankings

O líder da Fenprof exortou o ministro a pôr fim à divulgação dos dados que dão origem aos rankings das escolas.

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Ministro não considera rankings um indicador de qualidade LUSA/MÁRIO CRUZ

O ministro da Educação e os principais sindicatos de professores convergiram, nesta sexta-feira, nas críticas aos rankings das escolas, com João Costa a afirmar que não reconhece “nos rankings, que são meras hierarquizações de escolas, um grande indicador sobre a qualidade do trabalho que se faz nas escolas” e a Fenprof e a FNE a apelidá-los de “injustos”.

O secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira foi mais longe e desafiou o ministro a deixar de fornecer aos órgãos de comunicação as informações que dão origem aos “rankings”, reconhecendo que possivelmente seria “devorado” por isso. “É sempre fácil dizer que discordamos de uma coisa e depois criar condições para que se faça”, comentou.

Os rankings das escolas foram publicados nesta sexta-feira. Para além da lista ordenada dos estabelecimentos de ensino em função das suas médias de exame, incluem também vários indicadores fornecidos pelo Ministério da Educação e também de produção própria, como no caso do PÚBLICO, que enquadram, por exemplo, as notas obtidas nos contextos socioeconómicos dos alunos e das escolas.

“Nós temos produzido ao longo dos últimos anos muitos indicadores de desempenho nas escolas, temos mais de cinco dezenas de indicadores que nos permitem aferir a qualidade do trabalho desenvolvido”, sublinhou João Costa. Deste pacote, o ministro destacou o da equidade porque “permite avaliar a qualidade do trabalho das escolas não apenas em função dos resultados finais absolutos, como é tradicionalmente referida a qualidade da escola, mas como cada escola promove o trabalho com os alunos em função do seu perfil”.

Através do indicador da equidade é possível perceber o trabalho da escola, já que há uma comparação entre alunos com o mesmo perfil socioeconómico, com apoios da Acção Social Escolar, que permite perceber “quão longe a escola os leva”. Esta abordagem tem sido, contudo, criticada por vários investigadores por só comparar os resultados dos alunos com ASE, em vez de fazer essa comparação também com os estudantes de meios mais favorecido.

“É um indicador que nos permite dizer que pobreza não é fatalismo”, afirmou João Costa, sublinhando que os indicadores revelam que existem “escolas em contextos semelhantes, com alunos com os mesmos índices de pobreza que os levam mais longe do que outras”. Apesar das melhorias registadas, para o ministro, a situação escolar dos alunos mais carenciados “é ainda um grande desafio” e “é ainda aí que tem de estar o foco das políticas de educação”.

"Injustiça tremenda"

Voltando à comparação com base nas notas dos exames, o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, destacou à Lusa que se está “a comparar o incomparável” e que os rankings são de “uma injustiça tremenda”, sobretudo considerando o contexto de pandemia de covid-19.

“É de uma injustiça tremenda mesmo entre escolas públicas compará-las e, sobretudo, a forma como são apresentados”, disse em referência às classificações de melhores e piores estabelecimentos de ensino, afirmando ainda que as listagens “acabam por criar estigmas sobre determinadas escolas”.

Opinião semelhante é a de João Dias da Silva, secretário-geral da outra principal estrutura sindical que representa os docentes. No entender do líder da Federação Nacional da Educação (FNE), os “rankings” não reflectem o trabalho das escolas e ignoram um conjunto de factores determinantes no desempenho dos alunos.

“Não sou capaz de colocar um “ranking” em que ponho ao mesmo nível pêras, maçãs e laranjas. São coisas diferentes, são realidades diferentes que não permitem estabelecer uma hierarquia entre elas”, afirmou, considerando que não constituem, sequer, um factor de melhoria da qualidade das escolas.

Também o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) voltou a criticar os rankings. “Nós não preparamos os alunos para os “penaltis”, preparamos os alunos para terem sucesso no ensino superior e na vida”, sublinhou.

No entender de Filinto Lima, as melhores escolas não são necessariamente aquelas cujos alunos se saíram melhor durante a hora e meia do exame final, e fazer essa avaliação é “perverter tudo e tirar a verdadeira essência de uma escola”. “Se querem fazer um verdadeiro ranking”, tenham em consideração quais são as escolas que melhor preparam os alunos para terem sucesso no ensino superior e o valor acrescentado por cada escola a esse aluno durante o seu percurso escolar”, desafiou, aconselhando os estabelecimentos de ensino a relativizar o resultado dos “rankings”.