O icónico comboio de luxo Expresso do Oriente — que Agatha Christie ajudou a tornar ainda mais famoso, com Crime no Expresso do Oriente (1934), várias vezes adaptado para cinema — estará pronto para retomar o trajecto Paris-Istambul a tempo dos Jogos Olímpicos de 2024 na capital francesa. Funcionará entre as duas cidades com um renovado serviço que incluirá 17 carruagens originais (da composição fazem parte 12 vagões dormitório e um vagão restaurante) construídas entre as décadas de 1920 e 1930.
De acordo com o projecto, o comboio terá três tipos de suítes (todas com casa-de-banho), incluindo a suíte presencial e com todas as decorações e os painéis art déco ainda milagrosamente no lugar.
“O renascimento do Expresso do Oriente é um desafio tecnológico, atendendo a critérios científicos, artísticos e técnicos”, sublinha em comunicado Maxime d'Angeac, o arquitecto responsável pelo renascimento. “Todo o projecto foi concebido como uma obra de arte. Confiado aos melhores artesãos e decoradores especializados em áreas únicas, o comboio, embaixador do luxo francês, revelará um cenário de requinte absoluto, fiel à arte da alfaiataria”. “Desde as porcas e parafusos estampados com a assinatura Orient-Express ao conceito inovador das suítes, a máxima atenção aos detalhes permitirá aos viajantes redescobrir o grande esplendor do Orient-Express”, acrescentou D'Angeac, confesso apaixonado por Literatura.
Convém não confundir esta nova composição com, em primeiro lugar, o italiano Orient Express - La Dolce Vita, lançado pelo grupo hoteleiro Accor, e que começará a funcionar em 2023, e, em segundo lugar, o Venice-Simplon Orient Express, propriedade do grupo hoteleiro Belmond, normalmente a funcionar entre Londres e Veneza — James Sherwood, na década de 1970, comprou várias carruagens para em 1982, lançar esta rota.
Convém lembrar que de 1883 a 2009, o verdadeiro Expresso do Oriente costumava circular em diferentes rotas, no entanto o serviço foi interrompido devido a uma queda na popularidade deste ícone. Com a mudança dos tempos e o interesse das pessoas em percursos mais demorados e sem voos, o Expresso do Oriente está pronto para a acção.
A história deste renascimento começa numa descoberta fortuita quando em 2015 o historiador francês Arthur Mettetal foi contratado para pesquisar e documentar o que restava dos vagões originais do lendário comboio em nome da SNCF, a Société Nationale des Chemins de Fer Français.
Durante a investigação deparou-se, entre outros conteúdos, com um vídeo anónimo carregado no YouTube a partir do qual, com ajuda do Google Earth e do Street View, conseguiu rastrear os 17 vagões originais: as carruagens estavam perfeitamente alinhadas e esquecidas em Malaszewicze, um entroncamento ferroviário muito remoto na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia. Entretanto, passaram-se vários anos de negociações para que o então proprietário concordasse em vendê-los. Em 2018, os vagões finalmente regressaram a França para o início da recuperação e restauro.
Ainda é muito cedo para saber o itinerário definitivo — que obviamente partirá de Paris Gare de l'Est e chegará a Istambul.