Euro cai para mínimos de 20 anos e aproxima-se de paridade com o dólar

Numa altura em que o euro está a valer 1,026 dólares, a maioria dos analistas acredita que é apenas uma questão de tempo até que a moeda única e a moeda norte-americana passem a valer o mesmo.

Foto
Reuters/Dado Ruvic

O euro voltou a negociar em queda na sessão desta quarta-feira e está agora em mínimos de quase duas décadas, aproximando-se da paridade em relação ao dólar. A pesar sobre a moeda única têm estado os receios em torno de um abrandamento do crescimento económico e, sobretudo, do impacto que o aumento dos preços da energia terá sobre a economia da zona euro.

Por esta altura, o euro segue a desvalorizar 0,05% e fixa-se em 1,0261 dólares. Este valor fica ligeiramente acima dos 1,0236 dólares registados na terça-feira, mas, ainda assim, o euro mantém-se nos níveis mais baixos desde Dezembro de 2002. Já o dólar tem mantido, nos últimos meses, uma trajectória contínua de subidas. O índice que compara o dólar com outras seis moedas está agora nos níveis mais elevados desde 2003.

Perante este cenário, a maioria dos analistas acredita que será apenas uma questão de tempo até que o euro e o dólar tenham o mesmo valor, havendo mesmo quem defenda que a moeda norte-americana poderá vir a valer mais do que o euro.

Este movimento é registado numa altura em que os custos da energia têm vindo a disparar, como uma das consequências da guerra na Ucrânia, um cenário que, para já, tem um impacto mais significativo para a economia europeia do que para a norte-americana.

É esse o caso do gás natural, segundo combustível mais utilizado na União Europeia e que tem na Rússia o maior exportador. Esta manhã, os contratos futuros de gás natural para entrega em Agosto até estão a desvalorizar em torno de 4,5%, mas mantêm-se em níveis elevados, acima dos 157 euros por megawatt hora. Este valor está abaixo do máximo histórico de 200 euros por megawatt hora alcançado em Março deste ano, mas, ainda assim, é um valor historicamente elevado, representando mais do dobro do que era registado no final do ano passado.

O mesmo tem acontecido com o petróleo, matéria-prima que também regista aumentos expressivos desde o início da guerra na Ucrânia. Esta quarta-feira, o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência para o mercado europeu, está a valorizar 1,5% e a aproximar-se dos 105 dólares.

E as expectativas apontam para que a crise energética se prolongue por algum tempo. Numa nota divulgada recentemente, o Goldman Sachs reviu em alta as previsões para os preços do gás natural, justificando que uma reposição completa do fluxo de gás pelo gasoduto Nord Stream, que transporta gás russo para a Alemanha, é um cenário cada vez mais improvável.

Assim, a pressão sobre a moeda única vai aumentando. “Não é apenas a ameaça da não entrega de gás que está a pesar sobre o euro. Os custos de energia, já muito elevados, também são um fardo. Os custos da energia na Europa são muito mais elevados do que nos Estados Unidos”, comenta um analista da Berenberg, citado pela Reuters.

Juros agravam-se

A contribuir para esta evolução da moeda única tem estado, ainda, a subida dos juros das dívida soberanas da Zona Euro, mais um factor que está a agravar os receios em torno de um abrandamento do crescimento económico ou mesmo de uma possível recessão, numa altura em que os custos de financiamento dos países europeus estão a crescer a um ritmo mais acelerado do que os dos Estados Unidos.

É esse o caso da Alemanha, referência na zona euro, cujos juros da dívida pública a dez anos têm estado, desde Maio, acima de 1%, depois de anos em que se mantiveram em terreno negativo. Esta quarta-feira, os juros da dívida alemã a dez anos estão a agravar-se em cerca de 3 pontos base e negoceiam em 1,19%, tendo já atingido 1,24% nesta sessão. Nos países do Sul da Europa, o agravamento dos custos de financiamento é mais evidente. Em Itália, os juros da dívida a dez anos estão acima dos 3,2%, enquanto em Espanha se aproximam dos 2,3%. Por cá, os juros da dívida portuguesa a dez anos estão também nos 2,3%, ainda assim longe dos 3,1% registados no passado mês de Junho.

Esta evolução acontece, também, numa altura em que os bancos centrais dos dois blocos têm actuado de forma diferente para conter a escalada da inflação. A Reserva Federal norte-americana foi mais rápida e mais agressiva a subir as taxas de juro de referência, ao passo que o Banco Central Europeu programou a sua primeira subida apenas para este mês de Julho, tendo sinalizado um ritmo mais moderado de aumentos até ao final do ano.

“Tudo isto significa que o euro vai continuar a cair e os mercados estão a acordar para isso. Estamos à espera de paridade e a questão é se o euro pode, até, baixar dessa fasquia. Acreditamos que pode”, refere um analista da Nomura, citado pela Reuters. “É absolutamente possível o euro ficar a valer menos do que o dólar. Ainda não aconteceu, mas é quase inevitável neste momento. Muito possivelmente, esta semana”, diz ainda Mário Martins, analista da ActivTrades.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários