Comentários homofóbicos: MP investiga professor da Universidade de Aveiro

Paulo Lopes classificou comunidade LGBTQ+ como “organizações ‘terroristas’ que nos tentam impor a força os seus desvarios”.

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Paulo Lopes é professor na Universidade de Aveiro Universidade de Aveiro | Facebook

O Ministério Público (MP) abriu uma investigação a Paulo Lopes, professor do departamento de Física da Universidade de Aveiro (UA), após comentários proferidos pelo docente nas redes sociais e em entrevistas a órgãos de comunicação social.

“Confirma-se a recepção de denúncia relativa à matéria em referência. A mesma deu origem a inquérito que corre termos no DIAP de Aveiro”, respondeu a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao PÚBLICO. A notícia foi avançada inicialmente pelo Expresso.

Em causa está uma publicação que o professor fez na sua página do Facebook, na qual critica abertamente a comunidade LGBTQ+, a propósito de uma campanha publicitária que dá a conhecer vários termos relacionados com esta comunidade, como “gay”, “lésbica”, “queer” ou “não-binária”.

Na publicação, o professor define a comunidade como “organizações ‘terroristas’ que nos tentam impor a força os seus desvarios”. “Acho que estamos a precisar urgentemente duma ‘inquisição’ que limpe este lixo humano todo!”, escreveu o docente, considerando que este acto publicitário “é uma agressão que merecia umas valentes pedradas nas vitrinas só para aprenderem”.

Na noite da passada quinta-feira, 30 de Junho, em declarações à TVI, Paulo Lopes afirmou: “Homofóbico com certeza que sou”. Contudo, assegurou que a sua postura enquanto docente é, e sempre foi, “100% profissional”.

Em conversa telefónica com o P3, na sexta-feira, dia 1 de Julho, o professor declarou não ter conhecimento do termo “homofóbico": “'Homo’ o quê? Não sei o que isso é”.

Num email enviado à Lusa, o professor referiu que esta polémica “é artificial”, afirmando que advém de uma “reacção violenta” do grupo visado. “Os ditos ‘estudantes’ reagiram na qualidade de cidadãos e não de alunos, pois as minhas acções não decorreram no meu local de trabalho que deve ser mantido à margem e nem sequer no âmbito do meu trabalho”, afirmou o docente, considerando que a reitoria “não tem que se manifestar sobre rigorosamente nada”.

Paulo Lopes insistiu ainda que a publicação que fez foi a título pessoal e espelha a sua opinião pessoal, “soberana num Estado considerado livre e consagrada na Constituição”.

“Naturalmente, haverá quem não goste da minha posição, mas isso faz parte da vida. Eu também não gosto de muitas posições e não faço alarido nem persigo ninguém, limito-me a comentar, como aliás o fiz na minha publicação”, concluiu.

Suspenso pela UA

A Universidade de Aveiro suspendeu temporariamente Paulo Lopes esta segunda-feira. Em declarações à Lusa, o reitor da UA, Paulo Jorge Ferreira, esclareceu que a suspensão temporária foi determinada na sequência de um processo disciplinar instaurado na sexta-feira contra o professor de Física.

Segundo Paulo Jorge Ferreira, esta decisão foi justificada pela “natureza das declarações e a forma como afectaram o imprescindível ambiente de confiança que deve existir entre um professor e os seus estudantes, o conflito óbvio entre os valores da Universidade e a falta de valores que essas declarações implicam e o impacto sobre a imagem e valores da própria Universidade”.

O reitor referiu ainda que actuou “o mais rapidamente possível, dentro da lei e dos procedimentos disponíveis”, garantindo que a UA “rejeita liminarmente qualquer discurso de ódio, qualquer apelo à violência, seja por que motivo for”.

Paulo Jorge Ferreira falava aos jornalistas em frente à reitoria quando decorria à mesma hora, naquele lugar, uma manifestação contra o discurso de ódio e discriminação na UA, reunindo cerca de 200 estudantes universitários que entoavam cânticos como “A nossa luta é todo o dia, contra o racismo, machismo e homofobia” e “Presta atenção, homofobia não é opinião”.

Também descontente com a situação, a Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) declarou que “não é aceitável ter um docente que defende esse tipo de valores”. Como forma de protesto, vários alunos criaram um grupo no Facebook intitulado “Acção contra o Prof. Paulo Lopes”, que já conta com mais de 700 membros.

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