DGPC veda sítio arqueológico localizado no recinto do Marés Vivas em Gaia
Em causa está a Estação Paleolítica do Cerro, na qual está identificada uma mamoa, bem como depósitos de formações marinhas, entre outros vestígios arqueológicos.
A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) vedou e interditou o sítio arqueológico situado no interior do recinto onde vai realizar-se o Festival Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, local que será vigiado “em permanência” por seguranças.
Em resposta enviada à agência Lusa, a DGPC conta que, “pese embora a tutela do património cultural não tenha emitido parecer prévio sobre a realização da iniciativa no local”, está a acompanhar a situação.
Na mesma resposta, esta entidade conta que, “após alerta”, técnicos da Direcção Regional de Cultura do Norte e do município de Gaia visitaram na sexta-feira o local “tendo sido determinada a vedação do sítio arqueológico com baias metálicas e sinalização de “interdita a passagem"”.
“A área arqueológica encontra-se implantada junto ao muro do parque de campismo [da Madalena], numa área que não vai ser usada para o festival e onde irão estar seguranças em permanência, para evitar a transposição ilícita do muro e o acesso ao recinto dos concertos”, lê-se na resposta.
O MEO Marés Vivas, festival agendado para 15 a 17 de Julho com Bryan Adams, Maluma e Anita como cabeças de cartaz, vai realizar-se no antigo parque de campismo da Madalena, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, local onde está identificada uma estação paleolítica com vestígios arqueológicos “com pelo menos mais de 300 mil anos”.
Na quinta-feira, véspera da visita dos técnicos ao local, em declarações à agência Lusa, o professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e especialista em arqueologia pré-histórica Sérgio Monteiro Rodrigues pediu “máxima vigilância e preservação do espaço”.
“O local está assinalado como sítio paleolítico e as intervenções [referindo-se ao festival, bem como a projectos futuros para o local] não são incompatíveis com o que lá existe, mas tem de haver vigilância. Não pode ser construído um palco em cima de uma anta. Tem de haver garantias de que o sítio é estudado primeiro”, disse Sérgio Monteiro Rodrigues.
Em causa está a Estação Paleolítica do Cerro, na qual está identificada uma mamoa, bem como depósitos de formações marinhas, entre outros vestígios arqueológicos.
O Marés Vivas vai realizar-se após dois anos de interregno devido à pandemia da covid-19.
Este festival realiza-se desde 1999 em Vila Nova de Gaia, tendo passado já por várias localizações e enfrentado polémicas e críticas de associações ambientalistas.
O espaço onde vai realizar-se este ano é, de acordo com um comunicado divulgado a 21 de Junho pela promotora do evento a PEV Entertainment, cinco vezes maior do que o anterior recinto.
Trata-se de um espaço que actualmente pertence ao Fundo Especial de Investimento Fechado Gaia Douro na freguesia da Madalena e para o qual está projectada a construção de um parque tecnológico.
A proposta sobre a disponibilização do espaço para a realização do festival foi discutida e votada em reunião camarária a 20 de Junho.
Na quinta-feira, em resposta à Lusa, a Câmara de Vila Nova de Gaia confirmou a existência de uma estação paleolítica no local e garantiu que esta está “obviamente devidamente protegida e salvaguardada nos instrumentos de planeamento”.
Referindo que o terreno em questão tem a área superior a 21 hectares, a autarquia disse que a estação paleolítica ocupa “uma pequena parte desse espaço”.
“As eventuais escavações serão definidas pelos proprietários e pela tutela, estando a Câmara Municipal interessada em que as mesmas se realizem. Note-se que a estação paleolítica convive, há décadas, com um parque de campismo e autocaravanismo, sem que alguma vez tenha sido posta em causa a estação”, lê-se na resposta escrita.