Central energética de fusão nuclear apresentada esta terça-feira
Depois do anúncio de um teste bem-sucedido em Fevereiro, o plano para a construção desta central energética em França é apresentado esta terça-feira, em Bruxelas.
O consórcio europeu EUROfusion apresenta esta terça-feira, em Bruxelas, o projecto de uma central de demonstração de energia de fusão nuclear, a DEMO, que deve entrar em funcionamento em meados deste século.
“Este dispositivo único de fusão nuclear, primeiro do seu tipo, entrará em funcionamento em torno da metade deste século e demonstrará a produção de 300MW a 500 MW [megawatts] de electricidade gerada por fusão nuclear, uma energia limpa e segura, e a sua ligação à rede”, refere um comunicado do consórcio europeu sobre a nova central.
Esta terça-feira, o EUROfusion, consórcio europeu de investigação em energia de fusão nuclear, “irá anunciar o início das actividades de desenho conceptual para a primeira central Europeia de demonstração de energia de fusão nuclear”, assim como o seu plano de investigação, que permitirá à experiência mundial de fusão ITER [reactor de fusão nuclear a ser construído em França] um início de operação promissor”.
“A fusão é o processo que alimenta estrelas como o nosso Sol e promete uma fonte de energia limpa inerentemente segura e quase ilimitada a longo prazo aqui na Terra. A energia de fusão gerará imensas quantidades de energia a partir de poucos gramas de combustíveis abundantes encontrados em todo o mundo”, lê-se no comunicado enviado pelo EUROfusion.
A fusão nuclear (a junção de núcleos de átomos) é o processo inverso ao que está na base dos actuais reactores nucleares, a fissão nuclear (a separação de núcleos atómicos de elementos radioactivos). Investigadores europeus, incluindo portugueses, obtiveram no início de Fevereiro um recorde de produção de energia de fusão nuclear sustentada, num teste que permite preparar a operacionalização do maior reactor do mundo, em França.
Uma equipa do reactor experimental de fusão Joint European Torus (JET), localizado perto de Oxford (Reino Unido), gerou, em Dezembro de 2021, 59 megajoules de energia de fusão nuclear em cinco segundos, mais do dobro do último recorde, atingido em 1997, segundo a Autoridade de Energia Atómica do Reino Unido. Os resultados “são a demonstração mais clara do potencial da fusão para fornecer energia sustentável”, aponta, em comunicado, a entidade britânica.
Cerca de 350 cientistas da União Europeia, Reino Unido, Suíça e Ucrânia participam, todos os anos, nos testes realizados no reactor de fusão do JET.
O processo de fusão nuclear acontece quando isótopos de hidrogénio (deutério e trítio) encapsulados são aquecidos, por campos magnéticos muito potentes, a uma temperatura dez vezes superior à do centro do Sol para criar plasma, estado da matéria em que os núcleos atómicos de hidrogénio colidem e se fundem em átomos de hélio mais pesados, libertando grandes quantidades de energia sem radiação.
A fusão nuclear tem uma capacidade energética quatro milhões de vezes superior à do carvão, petróleo ou gás. O ITER estará preparado para produzir 500 megawatts por períodos de 400 a 600 segundos, devendo começar a funcionar, numa primeira etapa, entre 2026 e 2027.
Portugal participa no EUROfusion, consórcio que apoia directamente a experiência do ITER, através do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.