Costa, o político imprevisível
Não é a primeira vez que António Costa surpreende o país com uma solução completamente distinta daquela que se esperava.
Na última semana, o Governo atravessou mais um crise que, à primeira vista, parecia ser uma estrada estreita com uma única saída: a demissão de Pedro Nuno Santos, um dos ministros que fazem parte do núcleo de coordenação política de António Costa. Um desastre para marcar os primeiros três meses da maioria absoluta, que se assinalavam justamente no dia 30 de Junho quando “tudo” aconteceu.
E “tudo” é um ministro avançar com uma decisão sobre um assunto de extrema importância e não ser secundado pelo chefe do Governo. “Tudo” é ainda mais do que isso: é começar o dia com uma ordem de revogação de um despacho e acabá-lo a assumir um “erro grave” perante o país inteiro.
Podia ter acabado em mini-remodelação, mas não. António Costa obrigou Pedro Nuno Santos a um exercício público de autoflagelação, mas segurou-o no Governo. Fez o inesperado: depois de todos darem a demissão como certa, garantiu que “o ministro Pedro Nuno Santos não agiu com má-fé” e manteve-o ao seu lado como o pai que vê o filho crescer e aprender (ou não) com os próprios erros até chegar o momento natural de sair de casa.
Não é a primeira vez que António Costa surpreende o país com uma solução completamente distinta daquela que se esperava. Aconteceu com a “geringonça”, um golpe de asa que poucos acreditavam poder ter sucesso (lembro-me bem das conversas que tive na altura com políticos de vários partidos e das dúvidas que havia, apesar das pistas que iam sendo dadas). Foi assim nos incêndios mortíferos de 2017, que teriam feito cair qualquer Governo, mas que só mais tarde (e por pressão presidencial) resultaram na saída da ministra da Administração Interna.
Foi assim quando o depauperado SNS reverteu a desgraça da pandemia, havendo momentos em que Portugal chegou a ser um exemplo para outros países. E foi assim em muitas outras ocasiões críticas para o executivo: o assalto em Tancos, o tempo de serviço dos professores, o chumbo do orçamento, as eleições antecipadas.
Quando esperamos uma coisa de António Costa, ele faz diferente. Talvez seja essa a receita do seu sucesso.