Rússia conquista região de Lugansk e põe Sloviansk na mira
Ucrânia confirmou a queda de Lisichansk, a última cidade importante na região de Lugansk, e prepara-se para a ofensiva russa em Donetsk.
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Ao fim de 130 dias de ofensiva militar em território ucraniano, a Rússia anunciou em comunicado que conquistou Lisichansk e que já controla toda a região de Lugansk. “O ministro da Defesa russo, general Serguei Shoigu, informou o comandante supremo das Forças Armadas, Vladimir Putin, da libertação da República Popular de Lugansk”, lê-se no curto documento, segundo o qual foram tomadas ainda algumas vilas nos arredores da cidade que há vários dias tem estado no centro da guerra.
O lado ucraniano respondeu a vários tempos e de diferentes modos. Um porta-voz do Ministério da Defesa disse à BBC, de manhã, que a Rússia não tinha “o controlo total” de Lisichansk e que “a vida humana era uma prioridade absoluta” para a Ucrânia, deixando subentendido que a sua tropa tinha retirado da cidade. Ao fim do dia, Volodymyr Zelensky afirmou que “é impossível dizer que Lisichansk esteja sob controlo” russo, mas admitiu que as suas forças militares “não têm vantagem” no combate.
Pouco depois, o Estado-maior das Forças Armadas confirmou a retirada total de tropas “com o objectivo de preservar as vidas dos defensores ucranianos”. Também em comunicado, a tropa ucraniana reconhecia que “infelizmente, a vontade de aço e o patriotismo não chegam para ter sucesso – são precisos recursos materiais e técnicos”.
A “libertação” de Lugansk, como lhe chama a Rússia, é um primeiro passo para a conquista territorial de todo o Donbass, de que faz parte ainda a região de Donetsk. Nesta, a Ucrânia ainda domina uma área significativa e tem vindo a reforçar trincheiras e barricadas há mais de um mês. A grande incógnita agora é saber se a tropa russa tem capacidade para tomar as grandes cidades restantes, como Sloviansk e Kramatorsk, em relativamente pouco tempo, ou se a Ucrânia continuará a ser bem-sucedida na estratégia de resistência feroz que tem atrasado o avanço inimigo – mas que tem sido muito custosa em vidas de parte a parte.
Sloviansk, precisamente, esteve sob intenso bombardeamento russo neste domingo. O autarca local disse que seis pessoas morreram, entre as quais uma criança, e 15 ficaram feridas em resultado dos ataques de artilharia. Vadim Liakh sublinhou que estes eram “os mais severos desde há algum tempo” e que um pouco por toda a cidade havia incêndios.
Desde a conquista de Lyman, no fim de Maio, que os russos estão sensivelmente a 30 quilómetros de distância de Sloviansk e a pouco mais de Kramatorsk, mas têm-se mantido na margem do rio Donets, que é um importante obstáculo ao avanço de ambos os lados.
Moscovo culpa Ocidente
Enquanto a Leste a situação se complica para a Ucrânia, noutros pontos do país registam-se alguns contra-ataques. É o caso de Melitopol, junto ao mar de Azov, que está ocupada pela tropa russa e foi alvo da artilharia e da Força Aérea ucraniana. O Estado-maior reivindicou ter destruído um depósito de munições russo, o que originou uma explosão enorme e um incêndio.
A Norte foi a cidade russa de Belgorod a registar explosões. O governador da região, Viatcheslav Gladkov, declarou que pelo menos quatro pessoas morreram em consequência de bombardeamentos ucranianos. Segundo ele, as bombas foram detectadas e destruídas antes de atingirem os alvos, mas os destroços e estilhaços destruíram e danificaram edifícios residenciais, provocando ainda vários feridos.
A capacidade bélica ucraniana deverá continuar a ser reforçada nos tempos mais próximos. Depois de Joe Biden ter anunciado o envio de um novo pacote de material militar para o país, este domingo foi a vez do novo primeiro-ministro australiano comprometer-se com o fornecimento de mais carros de combate blindados. “A Austrália vai contribuir com mais 100 milhões de dólares, elevando o nosso apoio a quase 390 milhões de dólares”, afirmou Anthony Albanese, de visita a Kiev.
Esta foi a primeira vez na História que um governante australiano pisou chão ucraniano. Albanese foi levado a visitar Bucha, Hostomel e Irpin, onde disse ter visto indícios de “crimes de guerra” nos edifícios residenciais arrasados pelas bombas.
Em Moscovo, o porta-voz de Vladimir Putin voltou a acusar os países ocidentais “de não permitirem que os ucranianos pensem ou falem sobre paz”. Em entrevista ao canal estatal Rossiya-1, Dmitri Peskov disse que “mais cedo ou mais tarde o senso comum vai prevalecer e o momento das negociações chegará”. Contudo, acrescentou, para isso acontecer é preciso que a Ucrânia “mais uma vez perceba as condições de Moscovo”.