Vale e Azevedo tem 30 dias para se apresentar em tribunal
Em causa está um processo em que o antigo presidente do Benfica está acusado de prestar garantias falsas de três milhões de euros em processos judiciais e de tentar burlar o BCP. Se Vale e Azevedo não comparecer no prazo determinado pelo juiz será declarado contumaz.
João Vale e Azevedo tem, desde esta última quinta-feira, 30 dias para se apresentar em tribunal, caso contrário será declarado contumaz. Ao ser declarado contumaz o antigo presidente do Benfica fica impedido de obter qualquer tipo de documento de identificação e de celebrar negócios jurídicos em Portugal.
O anúncio que determina um prazo para que Vale e Azevedo se apresente em tribunal tem a data de 30 de Junho, e é assinado pelo juiz Francisco Coimbra.
Em causa está um processo em que o antigo presidente do Benfica responde por crimes relacionados com o facto de ter alegadamente apresentado três milhões de euros de falsas garantias em três processos judiciais e por tentar burlar o BCP, também com garantias falsas, para conseguir um crédito de 25 milhões de euros.
Há mais de três anos, desde Março de 2019, que o tribunal tenta, sem sucesso, notificar João Vale e Azevedo, que reside e trabalha em Londres desde Junho de 2018, para ser julgado neste processo.
Este processo começou em 2006 com um pedido de financiamento no valor de 25 milhões de euros ao BCP por parte da empresa Vale e Azevedo Capital. A sociedade apresentou ao banco uma “garantia autónoma emitida pela PMRE Seguros” — uma suposta representante da Swiss Re Group em Paris — e afirmou que o dinheiro seria utilizado para comprar a Companhia Portuguesa de Amidos.
Depois de a Unidade da Análise de Crédito do BCP ter contactado a Swiss Re Group, constatou que não existia uma sucursal da empresa em França e que, embora as assinaturas de Eric Guyon e Richard Botella — os cúmplices do casal Vale e Azevedo neste caso — fossem verdadeiras, os dois homens não tinham qualquer ligação à empresa suíça. O mesmo esquema terá sido utilizado para burlar outras empresas com as quais Vale e Azevedo mantinha negócios, entre as quais a PêMais, a Vencimos, a Eurolondons e a Futurbelas.
Acresce que, de acordo com a acusação do MP, “no âmbito de processos judiciais no qual era parte o arguido João Vale e Azevedo”, foram emitidos “seguros de caução, em nome da PMRE, no valor de 3.177.237,62 milhões de euros” — o que leva a acusação a sustentar que Vale e Azevedo enganou a própria Justiça.
A acusação visava também Filipa Vale e Azevedo, mulher de Vale e Azevedo, e Eric Andre Robert Guyon e Richard Emille Botella, que representavam a PMRE. O processo de Vale e Azevedo foi autonomizado e o tribunal julgou primeiro Filipa Vale e Azevedo e os dois sócios da PMRE. No tribunal de primeira instância, a mulher do antigo presidente do Benfica foi absolvida, mas Guyon e Botella foram condenados a uma pena única de cinco anos de prisão com pena suspensa e a pagarem cada um ao Estado 25 mil euros — uma condenação que viria a cair no Tribunal da Relação de Lisboa, que já em 2018 considerou prescrito o processo contra estes dois arguidos.
Ao todo, Vale e Azevedo está acusado neste processo de oito crimes de burla qualificada, dois de burla qualificada na forma tentada e quatro de falsificação de documento autêntico. A acusação do Ministério Público remonta a Dezembro de 2012. Quase dez anos depois, o julgamento ainda não começou.