Um lince de plástico a olhar o mar
O lince-ibérico é uma espécie ameaçada, mas está em recuperação. A gigante estrutura de plástico foi inaugurada em Lisboa durante uma cimeira climática e volta agora a olhar pelos oceanos, cujo futuro está a ser debatido mesmo ali ao lado.
É uma manta de retalhos com pedaços de lixo e ecopontos, mas que ganha a forma de um lince-ibérico. A escultura feita pelo artista Bordalo II – que transforma o lixo em arte – já está no Parque das Nações desde 2019, mas ganhou destaque esta semana, com centenas de pessoas a passarem por ela a caminho da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, a decorrer mesmo ao lado.
Desde 2019 que as cores foram ficando menos garridas, mas a escultura ganhou nova vida e há agora pássaros que chilreiam dos bigodes do lince-ibérico. Tal como os verdadeiros linces, também este gigante reciclado tem “barbas” e “pincéis” a saírem das orelhas. A diferença é que aqui não é pêlo: é plástico. E até as suas garras são feitas com as rodinhas de caixotes do lixo. Como explica no seu site, Bordalo II usa estes plásticos como forma de apreciar “a beleza contraditória do nosso lixo”.
A estrutura foi inaugurada há três anos pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, depois de uma conferência chamada Lisboa+21, que juntou ministros da juventude para debater a crise climática. Agora, o lince assiste a uma nova conferência sobre os efeitos das alterações climáticas – mas, desta vez, focada nos oceanos.
E esta não foi a primeira vez que o artista Bordalo II se dedicou a esta espécie ameaçada: o lince-ibérico já tinha servido de inspiração para um mural em Viseu.
Quando a obra em Lisboa foi inaugurada, a população de lince-ibérico em Portugal era inferior a uma centena: agora são 209, com 70 crias nascidas em 2021. Ao todo, entre Portugal e Espanha, existem mais de 1300 linces-ibéricos. Esta é uma espécie que continua ameaçada e que, no final da década de 1990, estava quase extinta, com menos de 100 destes animais entre os dois países. Mas o cenário tem melhorado e os especialistas esperam que esta espécie possa ser considerada “salva”.