Em prova: O regresso às castas minoritárias

Tintos de alvarelhão, brancos das variedades batoca ou fernão pires e até o regresso da cainho de moreira. A recuperação de castas antigas promete um regresso à diversidade e novas abordagens aos Vinhos Verdes.

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Subjugadas pela presença massiva de alvarinho, loureiro, e a omnipresente arinto (pedernã, como lhe chamam no Minho), nas brancas, ou a emblemática vinhão, nas tintas, a grande maioria das castas dos Vinhos Verdes vive actualmente numa espécie de letargia, nalguns casos mesmo fatal. Não parece, mas ao todo são ainda hoje quase meia centena (47) as castas aptas à produção de vinhos com Denominação de Origem (DO) Vinho Verde, com os números a mostrarem outra realidade que, aos olhos da actualidade, parece igualmente pouco verosímil: as tintas estão em maioria, somando 24 contra 23 brancas.

Um estudo recente do centro de experimentação e investigação da Comissão de Viticultura da Região, a Estação Vitivinícola Amândio Galhano, conclui que o abandono ou esquecimento a que foram votadas a maioria das castas decorre em grande parte do desaparecimento da pequena propriedade e da intensificação da cultura da vinha nos últimos 30 anos, que acabou por se concentrar num pequeno conjunto de castas.

Uma tendência de massificação dos Vinhos Verdes que a Estação quer contrariar com o plano de preservação que está a desenvolver a partir do acervo da sua vasta colecção ampelográfica. A par do apuramento e desenvolvimento de 14 castas exclusivas das nove sub-regiões – Monção e Melgaço, Lima, Cávado, Ave, Basto, Sousa, Amarante, Paiva e Baião –, a tarefa passa também pela avaliação das castas menos utilizadas e pela revisão da actual composição dos encepamentos.

Fruto de uma multiplicidade de terroirs, decorrente da extensão e diversidade da rede hidrográfica e da maior ou menor exposição ao Atlântico, a região sempre se caracterizou pelos vários microclimas e uma grande e rica variedade de castas. Muita coisa mudou entretanto, tanto na viticultura e adegas como no conhecimento enológico, e provavelmente muitas já deixaram de fazer sentido, mas o movimento de regresso já aí anda, e são cada vez mais os produtores a partir para a experimentação. Há, por isso, que os provar.

Dos tintos de alvarelhão com que Anselmo Mendes tem feito os apelativos Pardusco – e também um belo espumante – que emulam os históricos vinhos de Monção com que há séculos se iniciou a exportação de vinhos portugueses, à branca batoca que a Quinta de Santa Cristina tem engarrafado nos últimos anos na sub-região de Basto, ou a interessante expressão obtida na Casa de Paços (Cávado) com a casta fernão pires.

E muita atenção ao regresso da cainho, muito cultivada na Galiza, mas que do lado de cá do rio Minho há muito andava esquecida. Outrora conhecida como cainho de moreira, pela sua implantação em Moreira do Lima, parece estar de volta. E para causar impacto.


Este artigo foi publicado no n.º 5 da revista Singular.

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