Benzeno e outros produtos químicos de risco detectados no gás canalizado em casas
Há concentrações de benzeno e outros produtos químicos com potenciais riscos para a saúde alertaram os investigadores que analisaram o gás natural canalizado para casas nos Estados Unidos. Mesmo com baixas concentrações, o risco pode existir.
Mesmo em baixas concentrações, químicos como o benzeno, podem ser tóxicos. Um novo estudo ao gás natural canalizado para as nossas casas mostra que em praticamente todas existem concentrações baixas de produtos químicos com potencial cancerígeno – especialmente o benzeno, presente em 95% das amostras. Além deste alerta, esta análise aponta ainda para os níveis inconsistentes das substâncias que dão o cheiro característico do gás, o que pode aumentar o risco de uma fuga de gás não ser detectada.
A análise que deixa estes alertas é agora publicada na revista científica Environmental Science & Technology, onde descrevem que encontraram 21 produtos tóxicos presentes no ar, de acordo com a classificação da Agência de Protecção Ambiental norte-americana. Estes 21 químicos são, de acordo com esta agência, suspeitos de causar cancro ou malformações congénitas.
O estudo recolheu mais de 200 amostras de 69 casas na área metropolitana de Boston (Estados Unidos), sendo que o químico mais presente é o benzeno, analisado em 95% das amostras recolhidas. A exposição ao benzeno, no curto prazo, pode causar sonolência, tonturas, dores de cabeça ou irritações nos olhos e na pele, mas a longo prazo pode acarretar maiores riscos de doenças sanguíneas e de certos tipos de cancro, como a leucemia.
Drew Michanowicz, investigador em saúde pública da Universidade de Harvard, refere que as concentrações de benzeno são muito inferiores às encontradas em gasolina, por exemplo. Numa conferência com jornalistas, como conta o jornal norte-americano New York Times, lembrou no entanto que “o gás natural é usado de forma muito abrangente na sociedade e em espaços fechados”.
Este é o principal motivo de preocupação dos dados agora apresentados. Ao New York Times, Rob Jackson, investigador da Universidade de Stanford que não participou no estudo, aponta que as maiores fontes de benzeno são o combustível para os automóveis e o tabaco. “Por outro lado, qualquer benzeno desnecessário na nossa casa é simplesmente demasiado”, diz.
Além da preocupação com as concentrações de benzeno e outros produtos químicos, os níveis inconsistentes de odorizantes que permitem detectar fugas de gás, por mais pequenas que sejam, também preocupam os investigadores.
A investigação sugere também que as fugas de gás natural não libertam apenas metano, mas outros produtos químicos prejudiciais à saúde pública. Um dos autores do estudo, o pediatra Curtis Nordgaard, afirma mesmo que “este não é apenas um problema climático, mas também um problema de saúde.”
Ao longo da última década, a pressão para reduzir a dependência directa de produtos petrolíferos e gás natural para o abastecimento energético tem aumentado, com a recente invasão da Ucrânia pela Rússia a escalar esta necessidade. Em Portugal, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos recomendou o adiamento da expansão das redes de gás natural, já que a aposta poderá passar pela electrificação de consumos e por uma maior eficiência energética.
No caso português, e de outros países-membros da União Europeia, o gás natural liquefeito que recebemos (dos Estados Unidos, por exemplo) é armazenado pela REN, responsável depois pela reconversão em gás, bem como pela adição dos produtos químicos regulamentados (como os odorizantes que permitem detectar uma fuga de gás). Só depois deste processo, gerido pela empresa portuguesa, é que é canalizado pela rede de distribuição para as casas e empresas.
A legislação europeia impõe um limite máximo de concentração de benzeno e outros produtos químicos, tendo sido em Abril deste ano revisto o limite para 0,2 partes por milhão (ou seja, em cada milhão de moléculas 0,2 são de benzeno). O valor máximo aplicado anteriormente era de 1 parte por milhão.