Nem o exame nacional de Filosofia escapa ao império da escolha múltipla
Sociedade Portuguesa de Filosofia lamenta a “sobrevalização” das perguntas de escolha múltipla no exame realizado esta terça-feira.
Dos 18 itens do exame de Filosofia do 11.º ano, realizado nesta terça-feira, 10 eram de escolha múltipla. No entender da Sociedade Portuguesa de Filosofia (SPF) trata-se de uma “sobrevalorização comparativamente a questões de desenvolvimento e posicionamento argumentativo”, que é de “lamentar” tendo em conta a “especificidade” desta disciplina e a sua “centralidade na argumentação”. E que já se repetiu noutros anos.
No conjunto, a SPF entende que, “do ponto de vista científico, a prova está de um modo geral bem elaborada”. Mas deixa um alerta: “Algumas questões de resposta de escolha múltipla podem ser legitimamente interpretadas de modo que as soluções apresentadas pelos critérios de classificação possam não ser as mais correctas.”
Isto quer dizer que as opções previstas nos critérios de classificação não esgotam o universo de respostas potencialmente correctas. Seja como for, a SPF adianta que “em nenhum dos casos, ao nível de ensino em causa, nos pareça que levantem problemas de resolução por parte dos alunos”.
Filosofia é uma disciplina que, no 10.º e 11.º anos, faz parte da componente geral obrigatória dos cursos científico-humanísticos do ensino secundário. À semelhança do que aconteceu nos últimos dois anos, também o exame de 2022 só conta como prova de acesso ao ensino superior. Inscreveram-se para esta prova 11.753 alunos, dos quais faltaram 4810.
A prova de Filosofia pode ser utilizada no acesso a uma panóplia de cursos, entre os quais Psicologia, Relações Internacionais, Direito, Arquitectura ou Ciências da Comunicação. Psicologia e Direito são os cursos para os quais estão a apontar os alunos com quem o PÚBLICO falou à saída do exame desta terça-feira. Foram quatro, todos acharam o exame “acessível”.
Dos 18 itens da prova, existem 12 cujas respostas contam obrigatoriamente para a nota final. E outros seis em que só serão seleccionados os quatro cujas respostas obtenham melhor pontuação. Entre os itens obrigatórios está, como habitualmente, o de composição. No caso, os alunos foram interpelados a apresentar a sua posição sobre este pequeno trecho do filósofo e crítico de arte inglês Clive Bell: “Se uma forma representativa tiver algum interesse, é como forma, e não como representação. O elemento representativo numa obra de arte pode ou não ser prejudicial; é sempre irrelevante.”