Investigadores da Universidade do Porto apontam cirurgia como solução segura para travar enxaquecas

Uma em cada três pessoas com enxaquecas não melhora com medicamentos. Um estudo agora publicado, realizado por investigadores da Universidade do Porto, aponta que a cirurgia pode ser uma solução segura para um problema que afecta, diariamente, 7% da população mundial.

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As enxaquecas afectam, todos os dias, 7% da população mundial Miguel Feraso Cabral

O tratamento cirúrgico da enxaqueca é um procedimento “seguro e eficaz” e pode representar melhorias “significativas” na qualidade de vida dos doentes, refere um estudo agora publicado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

“Uma em cada três pessoas com enxaquecas não melhora com fármacos”, aponta a investigação publicada na revista científica Annals of Plastic Surgery, dedicada à cirurgia plástica e reconstrutiva. “A cirurgia pode ser uma alternativa para travar este distúrbio que afecta a qualidade de vida das pessoas”, afirma António Costa Ferreira, docente da Universidade do Porto.

O também cirurgião plástico, e um dos autores do estudo, explica que, embora a maioria dos doentes responda positivamente aos tratamentos, “até um terço dos casos desenvolve resistência à medicação, não tolera os efeitos secundários ou tem contra-indicações para a sua utilização.”

António Costa Ferreira lamenta que o procedimento continue a encontrar resistência no seio da comunidade médica e que os profissionais de saúde, bem como próprios doentes, “ainda não estejam totalmente conscientes da existência desta possibilidade.” Em 2017, uma equipa liderada pelo cirurgião plástico do Centro Hospitalar São João (no Porto) realizou pela primeira vez uma cirurgia minimamente invasiva para tratar uma enxaqueca.

Um estudo anterior já apontava que mais de metade da população mundial sofre com dores de cabeça, sendo que 7% das pessoas tem enxaquecas diariamente. A enxaqueca é a principal causa para a incapacidade de trabalhar antes dos 50 anos.

Dos resultados da investigação, realizada em colaboração com Alexandre Almeida, Helena Peres e Sara Henriques, destaca-se a convicção de que o tratamento cirúrgico da enxaqueca é um procedimento “seguro e eficaz” e pode representar melhorias “significativas” na qualidade de vida dos doentes.

Através da revisão sistemática de estudos e artigos científicos publicados entre 1996 e 2020, a equipa da Universidade do Porto aponta que “os resultados demonstram a existência de provas científicas, publicadas em revistas de grande impacto, a favor da segurança e eficácia do tratamento cirúrgico da enxaqueca.”

Nos mais de 50 trabalhos de investigação analisados, os autores relatam uma melhoria significativa entre 58,3% a 100% dos casos e a eliminação completa de enxaquecas em 8,3% a 86,8% dos doentes.

Os investigadores destacam, igualmente, a diminuição dos custos a longo prazo, comparativamente ao tratamento farmacológico, e que apenas foram relatadas pequenas e ocasionais complicações no pós-operatório, na sua maioria temporárias, como alguns casos de dormência, hematoma ou alopecia.

A enxaqueca é um distúrbio neurovascular generalizado que afecta, aproximadamente, 19% das mulheres e 10% dos homens. O tratamento padrão de combate a enxaquecas envolve, geralmente, a combinação de fármacos e evitar factores que possam desencadear uma crise.