Resgatar a história e identidade do Douro, uma aldeia de cada vez

Ao longo de mais de um mês, a convite do projecto Vivificar, o artista multidisciplinar Alexandre Delmar assentou arraiais em São Mamede de Ribatua, no concelho de Alijó, Trás-os-Montes, em busca da história e identidade da aldeia.

Foto
Alexandre Delmar

Durante os meses de Março e Abril de 2022, a convite do projecto Vivificar, o artista nortenho Alexandre Delmar assentou arraiais na aldeia de São Mamede de Ribatua, no concelho de Alijó, em Trás-os-Montes, e desenvolveu um projecto em torno da identidade, das histórias, lugares e objectos dos seus habitantes.

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Fotogaleria
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Chamar à Pedra, Fraga — um título cuja vírgula gera “confusão” propositadamente, de acordo com Alexandre —​ alude à omnipresença da pedra nas imagens que compõem a série de fotografias que realizou na região e ao local onde decorreu a exposição do projecto, que esteve patente até 25 de Maio, na Escola Antiga da aldeia.

“Estou acostumado a realizar residências nos sítios mais isolados do interior de Portugal”, explica ao P3 o fotógrafo e videasta Alexandre Delmar. “Eu não conhecia a aldeia, embora trabalhe muito em Trás-os-Montes.” Aceitou de bom grado o desafio de construir um projecto multidisciplinar que resultasse do diálogo com a comunidade. “Foi feito um mapeamento dos locais mais relevantes de São Mamede de Ribatua e dos seus objectos”, explicou.

Alexandre trabalhou diferentes meios nomeadamente a fotografia, o vídeo, o som, a instalação, a recolha de objectos, a escultura, o desenho e o texto e dividiu o projecto em duas partes distintas.

A primeira, pode ler-se no relatório, dedicou ao trabalho junto dos elementos da banda filarmónica da aldeia de São Mamede de Ribatua, “que existe desde 1798 e é das mais antigas do país”. “Propus aos seus elementos a construção de pequenos trechos musicais improvisados em locais emblemáticos da aldeia”, explicou ao P3. Criou 12 registos audiovisuais dessas interacções, desses “pequenos concertos improvisados”, que intitulou de “chamamentos” (três podem ser vistos no vídeo embaixo).

Concerto em Treze Chamamentos

A segunda parte do projecto consistiu no “levantamento ‘arqueológico’ de objectos, história e lugares relevantes” da aldeia. Em contacto com os habitantes, conheceu “as histórias, os mitos, as curiosidades”, em suma, “os factos e as ficções” que tornam aquele local único.

Recorda o contributo do engenheiro civil José Eduardo, seu anfitrião, que o apresentou à comunidade; as histórias antigas de António Pólvora sobre mineração de volfrâmio; evoca o arquivo fotográfico de Miguel Cartageno, o homem que fez o levantamento das 300 alcunhas (por vezes infames) dos moradores da aldeia. “Utilizei essa lista, muito sensível na aldeia porque nem toda a gente gosta da sua alcunha, e registei em vídeo a sua leitura feita por duas crianças da aldeia”, Letícia e Ana Rita, descreveu. Recorda também os contributos de Zé dos Bois, António Leite, Manuela Ligeiro, João e Celestina, entre outros.

Na fotografia produzida por Alexandre Delmar o elemento humano está ausente. “Faço poucos retratos ou aproximações às pessoas”, explica. “Prefiro debruçar-me sobre os objectos das pessoas, sobre as suas ferramentas de trabalho, sobre os ingredientes que utilizam em receitas, sobre os seus lugares.” O resultado, embora “frio”, conta a sua história na estética que mais lhe apraz, refere, aludindo à estética fotográfica da escola alemã de Dusseldorf.

O trabalho de Alexandre Delmar foi desenvolvido em paralelo com o de 11 artistas nacionais e noruegueses que se estabeleceram, em residências artísticas organizadas pela Ci.CLO, nos concelhos de Alijó, Lamego, Mêda e Torre de Moncorvo. Em Março de 2023, cadernos, fotografias, objectos, vídeos do projecto multifacetado de Delmar estarão, em conjunto com outros trabalhos realizados no âmbito do Vivificar, novamente expostos no Museu do Douro, no Peso da Régua. Graças à parceria estabelecida entre a Ci.CLO e a Surnadal Billag, organização não-governamental sediada na pequena cidade de Surnadal, na Noruega, o projecto viajará até essa paragem.

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