Seca em Portugal exige política “permanente” para gerir a água, diz ministro do Ambiente

Para responder à seca no país, Duarte Cordeiro pede inovação, parcerias e reaproveitamento de águas sujas. Ministro falou em simpósio sobre água na Conferência dos Oceanos, em Lisboa e defendeu que “em Portugal, a seca não é conjuntural, é estrutural.”

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“Em Portugal, a seca não é conjuntural, é estrutural", defendeu esta segunda-feira o ministro do Ambiente e da Acção Climática LUSA/NUNO VEIGA

Apesar da evolução portuguesa nas últimas décadas na melhoria da disponibilidade e da qualidade da água, as alterações climáticas impõem uma realidade que exige uma agenda política “permanente” em termos de gestão da água, referiu Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Acção Climática, na abertura do Simpósio de Alto Nível sobre Água, que decorreu na tarde de segunda-feira, no primeiro dia da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, a decorrer em Lisboa até sexta-feira.

“A água e a sua gestão exigem uma agenda política clara, não de uma forma circunstancial, mas permanente, exige reflexão, concertação e negociação”, disse Duarte Cordeiro para uma plateia com poucas pessoas no espaço Altice Arena. O simpósio foi organizado para discutir e encontrar sinergias entre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável 6, dedicado à promoção da água potável e ao saneamento, e o 14, para a conservação e o uso sustentável dos oceanos. Estes são apenas dois dos 17 objectivos definidos em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas para melhorar o mundo até 2030.

No simpósio, o ministro iniciou o discurso trazendo a realidade portuguesa, especificamente a evolução que ocorreu nos últimos 30 anos em termos da melhoria do abastecimento da água, da sua qualidade e da diminuição de poluição de rios e praias. Mas, num cenário das alterações climáticas, a gestão da água feita até agora não é suficiente: “Em Portugal, a seca não é conjuntural, é estrutural.”

“Num cenário de emergência climática é necessário melhorar a governança deste recurso a nível local, nacional, transnacional”, disse Duarte Cordeiro. Uma das possibilidades trazidas pelo responsável foi a reutilização das águas sujas. “Por muito que choque, o esgoto é uma fonte de matéria-prima que se pode usar em fertilizantes, matéria-prima, bioplástico e também em água para diversas actividades”, lembrou.

A água é um bem cada vez mais raro, lembrou o ministro. “No meu país, nos últimos 20 anos, a precipitação caiu 15% e até o final do século a chuva irá reduzir-se entre mais 10 e 25%”, avisou o responsável. Perante este cenário, existem “enormes desafios, sobretudo em regiões do globo como a Mediterrânica”, acrescentou, lembrando que tanto parte do país como parte do Sul da Europa estão numa situação de seca. “Este simpósio é uma oportunidade única para reflectir sobre estas questões cruciais do ciclo da água”, garantiu.

Para Duarte Cordeiro, é necessária uma gestão integrada dos recursos hídricos, aumentar a inovação e a colaboração entre países. “Estamos disponíveis para partilhar o que aprendemos e a aprender com outros”, assumiu. “A água é essencial, a água é escassa, a água é preciosa, temos de a tratar mais e melhor, é esse esforço que temos feito, é esse esforço que se exige, é esse esforço que saudamos.” A gestão integrada dos recursos hídricos, a resiliência das zonas húmidas, o lixo marinho, os usos das águas residuais, as águas costeiras, foram alguns dos temas escolhidos para serem discutidos no simpósio.

Entretanto, o Governo reconheceu oficialmente, esta segunda-feira, a existência de uma situação de seca severa e extrema agro-meteorológica em todo o continente. O reconhecimento oficial foi publicado esta segunda-feira em Diário da República, através de um despacho de 21 de Junho da ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes.

Portugal continental estava em Maio com cerca de 97,1 % do território na classe de seca severa e 1,4 % na classe de seca extrema. “Esta situação sofreu um agravamento na 1.ª quinzena de Junho com a totalidade do território continental em situação de seca severa ou extrema”, diz-se no documento. O reconhecimento oficial da situação de seca extrema ou severa em Portugal continental visa minimizar os efeitos da seca na actividade agrícola e no rendimento dos agricultores.