Europeus não querem produtos que estão ligados à desflorestação

Cidadãos da Dinamarca, França, Alemanha, Itália e Espanha desejam produtos que não tenham sido feitos causando a destruição de florestas em outros países, de acordo com uma sondagem divulgada pela associação Zero.

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Plantações de palma em Aceh, na Indonésia, para o fabrico de óleo EPA/HOTLI SIMANJUNTAK

Cidadãos de cinco países europeus querem que os produtos que compram não provoquem a desflorestação de países terceiros, e são contra o atraso de legislação europeia anti-desflorestação, indicam os resultados de uma sondagem divulgados esta segunda-feira. O trabalho apresentado pela associação ambientalista portuguesa Zero envolveu 5000 pessoas, mil de cada um dos cinco países.

A sondagem, divulgada em comunicado Zero, foi feita em cinco países: Dinamarca, França, Alemanha, Itália e Espanha. Indica que “apesar da campanha de desinformação do lobby ligado às indústrias alimentares e agrícolas, numa tentativa de atrasar a legislação anti-desflorestação”, com “a desculpa” da guerra na Ucrânia, sete em cada 10 pessoas inquiridas considera que a guerra é usada para continuar a promover produtos que causam a desflorestação.

A Comissão Europeia apresentou uma proposta de regulamento, no ano passado, para garantir que as cadeias de abastecimento europeias não causam desflorestação e degradação das florestas. A proposta é discutida esta terça-feira no Conselho Europeu, mas segundo um comunicado da Zero há ministros do Ambiente de vários Estados “que estão a ceder ao lobby da indústria” e estão “dispostos a enfraquecer o texto final”.

Os resultados da sondagem indicam que quase nove em cada 10 dos inquiridos apoiam o reforço da proposta de regulamento que está em discussão, o que acontece de forma geral, incluindo os apoiantes dos partidos ou líderes no poder.

“Os poderosos lobbies da indústria da carne, do óleo de palma e o chocolate estão a exercer pressão política em Bruxelas e nas principais capitais nacionais para diluir uma proposta de regulamento que exigiria garantias por parte das empresas que os produtos vendidos na União Europeia (UE) são livres de desflorestação”, diz a Zero.

“Esta sondagem mostra que os cidadãos europeus querem melhorias à proposta da Comissão Europeia. Espera-se que o governo português contribua de forma efectiva para a proposta final de regulamento, que seja robusta e decididamente permita combater fenómenos de desflorestação e atentados aos direitos humanos de povos e comunidades a milhares de quilómetros de distância, possibilitando que os produtos que chegam ao consumidor são garantidamente sustentáveis”, afirma o presidente da Zero, Francisco Ferreira, citado no documento.

A Europa é um dos maiores motores da desflorestação mundial, apenas atrás da China. A União Europeia é responsável por 16% da desflorestação tropical, através da importação de produtos como carne de bovino, soja, óleo de palma, borracha, madeira, cacau e café e produtos derivados.

A agricultura impulsiona quase 90% da desflorestação tropical, diz a Zero, citando a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). A sondagem foi encomendada por organizações ambientais e foram ouvidas 5000 pessoas, 1000 em cada país.