Um Fevereiro Frio trouxe O Navio de Guerra Russo, Bucha, a Primavera. Assim se chamam algumas das centenas de pinturas de crianças ucranianas, agora à venda online. Cada desenho custa cerca de oito euros — valor directamente transferido para as famílias dos jovens.
Um grupo de mais de 30 voluntários juntou-se para dar vida a uma plataforma de exposição dos trabalhos de pequenos artistas, num esforço para devolver “uma sensação de segurança, pertença e propósito às crianças ucranianas”, afirmam os criadores do site Leleka.me.
Na cultura ucraniana, a palavra “leleka" — em português, cegonha — simboliza paz, conforto, casa ou família. Ideias que contrastam com os títulos de alguns dos desenhos, por exemplo, House, Bang, No House (numa tradução livre, Casa, Bang, Sem Casa).
Apenas um mês após a entrada das tropas de Moscovo em território ucraniano, já mais de metade das crianças ucranianas e respectivas famílias tinham sido forçadas a deixar as suas casas. “A guerra provocou uma das mais rápidas e maiores vagas de crianças deslocadas desde a II Guerra Mundial”, afirmava a 24 de Março a directora executiva da UNICEF, Catherine Russell.
“Este é um marco sombrio que terá consequências duradouras para as gerações futuras. O bem-estar das crianças, a sua segurança e o acesso a serviços essenciais estão todos ameaçados pela violência incessante”, acrescentou.
No início de Junho, cumpridos 100 dias de guerra, eram mais de cinco milhões as crianças ucranianas a precisar de assistência humanitária urgente — num total estimado de 7,5 milhões no país. Os artistas que enviaram os trabalhos para a Leleka são crianças ainda a viver na Ucrânia ou refugiadas noutros países. A nacionalidade, contudo, não é condição: basta serem crianças e jovens da Ucrânia, mesmo que com nacionalidade bielorrussa, polaca, russa ou húngara, por exemplo.
A organização sem fins lucrativos com sede no Reino Unido foi fundada pelas bielorrussas Aliaksandra Lamachenka e Sandra Charnak Woreczek, e pelo lituano Pavel Liber, para que em todo o mundo se pudesse navegar entre trabalhos artísticos de jovens ucranianos.
“Ao contrário dos adultos, as crianças não estão activamente envolvidas num activismo que lhes poderia dar alguma sensação de pertença e controlo” sobre a guerra a que assistem, justifica a equipa de voluntários da Leleka. Além disso, relembram, “as crianças ficaram privadas de actividades básicas que costumavam fazer, como ir ao cinema, estar com amigos, brincar.”
Da União Europeia aos Estados Unidos, qualquer pessoa pode pagar pelos desenhos em formato digital para depois conseguir imprimi-los com boa qualidade. Já os pequenos ilustradores podem continuar enviar os desenhos para leleka.me/join. Basta tirar uma fotografia ao trabalho e uma equipa de designers tratará do resto.