Estando muito próximo o meu aniversário, creio que se impõe fazer uma reflexão, não só sobre o quanto dói crescer, porque crescer dói, mas também sobre o quão difícil é ser jovem em Portugal.
Quando nascemos são colocadas imensas expectativas em nós. As expectativas dos nossos pais e os sonhos que eles não realizaram são-nos imputados, todas as pessoas ao nosso redor colocam expectativas e sonhos em cima dos nossos ombros. E vamos crescendo e vamos começando a formar a nossa personalidade, começando a sentir a obrigação de entrarmos na competição que é a vida. E neste ponto temos de ser sinceros: a vida é uma competição e isso é-nos incentivado desde pequeninos, começando pelo quadro de valor e mérito a partir do 1.º ano. Sejamos realistas, as notas só começam a ter real importância a partir do ensino secundário, que é quando a média começa a contar para o ingresso no ensino superior. A média no ensino básico não conta para a entrada no ensino secundário nem é algo decisivo, apenas fomenta a competição e divide os alunos, porque uns são bons alunos e conseguem alcançar as notas necessárias para ingressar no quadro de valor e mérito, e os restantes não se esforçaram o suficiente e nem são tão bons. É esta divisão que se cria, é esta competição que não faz sentido.
E no meio desta competição impõe-se logo fazer uma escolha: qual é a área do ensino secundário que vou escolher? Irei seguir o ensino regular ou optar pelo ensino profissional?
Para decidirmos que área queremos seguir no ensino secundário ou então no ensino profissional, temos de ter uma luz sobre o que queremos seguir na nossa vida adulta. Mas como é que aos 14 anos temos a capacidade de decidir algo desta dimensão? Fora a pressão exterior que se sente para seguir determinada área ou o medo que temos de enfrentar algumas matérias e não sermos capazes de tirarmos positiva. E muitos de nós não conseguimos falar com ninguém sobre o que sentimos e guardamos tudo porque acreditamos que ninguém nos compreende. Ser adolescente também é um pouco isso, achar que estamos sozinhos mesmo quando estamos no meio da multidão.
E vamos começando a perceber que dói crescer, é mais ou menos por esta altura que temos o primeiro contacto com alguém importante para nós que falece, é por esta altura que nos apaixonamos pela primeira vez e temos o primeiro desgosto amoroso. Somos confrontados pela realidade: temos de nos empenhar imenso se queremos ter uma boa média para entrarmos para o curso que queremos, percebemos também que a vida não é justa e que, por vezes, as desigualdades sociais são gritantes e, infelizmente, limitam os sonhos de alguns jovens. É neste momento que começamos a sentir que não podemos errar, apesar de errar ser algo humano, assumimos que não podemos decepcionar ninguém porque vamos estar a magoar essa pessoa.
Ser adolescente é querer algo e não querer, é amar num dia e odiar no outro, é pensar que sabemos tudo quando na realidade não sabemos, é querer crescer e ter medo do futuro, é querer demonstrar-se forte, mas não recusar o colo de quem nos ama. Crescer é isto, é a certeza no meio da incerteza, a dor que se sente mas não se vê. É saber que somos a geração mais bem preparada de sempre, mas que para sermos remunerados de acordo com o nosso grau de conhecimento temos de abandonar o nosso país. Somos a geração para a qual é praticamente impossível comprar casa devido aos baixos ordenados e aos elevados valores dos imóveis. Somos a geração que andou sempre a saltar de crise em crise e não sabe o que é viver sem estarmos em constante austeridade. Somos a geração que suspendeu a sua vida e atravessou uma pandemia, quando todos nos pediam responsabilidade nós demos uma lição de civismo com a elevada taxa da vacinação da nossa faixa etária. Somos a geração que é considerada demasiado liberal porque a maioria da geração defende a comunidade LGBTQI+, mas defendemos porque acreditamos nas liberdades individuais que ninguém pode ser julgado por amar quem ama. Somos a geração que batalha pelos problemas ambientais, pela igualdade de género, pelo fim à discriminação, por um elevador social que funcione. Somos uma geração de lutas, como todas foram, mas somos a geração mais bem preparada e que é “obrigada” a abandonar o país em busca de melhores oportunidades, porque na nossa terra não há e quando há nem toda a gente dá valor aos jovens, porque ainda se acredita que a idade é um posto. Somos a geração mais bem preparada de sempre, mas também somos a geração mais à rasca de sempre.
Dentro de todos os problemas, tenho muito orgulho em fazer parte da minha geração e sou muito grata às pessoas que me rodeiam e que são excepcionais nas suas áreas e me possibilitam aprender com elas. Em tom pessoal, e estando perto de completar os meus 19 anos, quero agradecer a todos que caminham lado a lado comigo, que me amparam as quedas, que celebram as vitórias, que me dão colo quando preciso e me puxam de volta à realidade. Quero agradecer a esses que atenuaram a dor que é crescer e o medo que crescer causa, que nunca me largaram a mão e me ensinaram tanto. Obrigada por acreditarem na minha geração, obrigada por acreditarem em mim.