Em Maiorca, restaurantes unem-se contra “turismo de bebedeira” e impõem código de vestuário

“Não podem entrar aqui vindos directamente da praia ou de estarem a beber na rua”. Onze restaurantes de Playa de Palma contra a “falta de civismo” de alguns turistas: implementaram um codigo de vestuário para “fechar” as portas aos grupos mais histriónicos e alcoolizados... Nada de calções de banho, troncos nus, tops e muito menos disfarces carnavalescos. As vozes contra os crescentes grupos de visitantes que “só procuram embebedar-se nas ruas” voltam a subir de tom.

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Há anos que as Baleares tentam controlar o "turismo de excessos", particularmente em Magaluf, Maiorca reuters/enrique calvo

A temporada balnear ainda vai no adro mas na Playa de Palma, na ilha espanhola de Maiorca, já se luta contra os “efeitos” do Verão - que é como quem diz, contra o que tem sido descrito como a falta de civismo de alguns turistas. “A situação na via pública é pior agora do que em 2017, 2018 e 2019”, aponta o empresário local Juan Miguel Ferrer, em declarações ao jornal El Día, “e já damos como perdida a temporada no que diz respeito ao controlo da falta de civismo”. Ainda assim, onze restaurantes unidos sob a marca de qualidade Palma Beach, de que Juan Miguel Ferrer é porta-voz, decidiram implementar um código de vestuário numa tentativa de conter o turismo de borrachera, ou seja, “turismo de bebedeira”, expressão popularizada em Espanha nos últimos anos. Códigos QR foram colocados na entrada dos estabelecimentos para os clientes consultarem: proíbem-se t-shirts sem mangas ou tops, calções de banho, disfarces; e também não se permitem “acessórios” comprados em vendedores ambulantes e camisolas de equipas de futebol, entre outros.

Durante o dia, continua o empresário, o código de vestuário será mais relaxado, contudo, durante a noite será inflexível, avisou. “O que estamos a tentar comunicar, de alguma maneira, é a ideia de que para entrarem aqui as pessoas devem tomar banho ou mudar de roupa”, explicou ao jornal britânico The Guardian. “Não podem entrar aqui vindos directamente da praia ou de estarem a beber na rua.” Não é uma questão de “proibição”, sublinhou ao El Día, mas de “reeducação” do turista através de “maneiras amigáveis de comunicar” para que estes entendam que devem mudar a sua atitude.

Lei para combater excessos alcoólicos será aplicada

Esta medida foi impulsionada pela chegada, desde o início de Maio, “de grandes grupos de turistas que só procuram embebedar-se nas ruas, na primeira linha de mar ou mesmo na praia”. Ferrer explicou que estes turistas fazem reservas com pouca antecedência, ficam três ou quatro noites e gastam cerca de 30 ou 40 euros por dia “geralmente em álcool e latas de cerveja que consomem em botellón na rua”. “Chegam aos hotéis de manhã, sem conseguirem sequer caminhar, estão completamente ébrios e até os companheiros os deixam deitados na calçada.”

Não é uma situação nova: em 2020 foi aprovada uma lei pelo governo regional das ilhas Baleares (inclui também Menorca, Ibiza e Formentera) que visa controlar o turismo “animado” por álcool. “Mas fez pouca diferença”, sublinha Ferrer, que, embora reconheça que a polícia está “a fazer um sobre-esforço”, apela a mais intervenção das autoridades para fazer cumprir a lei. E a Palma Beach propôs mesmo que os agentes policiais tenham a possibilidade de cobrar a multa por incivilidade no momento, uma vez que o problema principal reside na rua.

Também a plataforma “Por una Playa de Palma cívica”, que surgiu em 2017 pela mão de residentes e estabelecimentos hoteleiros, foi reactivada para exigir o cumprimento da lei e uma maior presença policial na zona. O vice-presidente da associação hotel de Playa de Palma, José Antonio Fernández de Alarcón, destacou, à Radio Mallorca, que ao contrário do que se passava antes da pandemia, agora existe uma lei para combater os excessos verificados na zona e essa ferramenta, acredita, “é a melhor vacina contra o turismo de bebedeira”. Uma fonte do governo regional indicou ao The Guardian que, devido à pandemia, este Verão será a primeira vez que a nova lei será totalmente aplicada e que o governo permanece empenhado em combater o turismo anti-social.

“Não podemos continuar a crescer em quantidade”

A esperada entrada em vigor efectivo da nova lei acontece numa altura em que políticos da região autónoma manifestaram o seu apoio a uma iniciativa que tem como objectivo reduzir gradualmente o número de camas disponíveis – actualmente, as Ilhas Baleares dispõem de 625 mil camas para alojamento turístico, o que significa um rácio de uma cama por dois residentes. “Não podemos continuar a crescer em quantidade”, afirmou o responsável regional da economia e turismo, Iago Negueruela, quando a lei foi aprovada – o objectivo será assim reduzir o número de visitantes sem colocar em risco uma indústria que representa cerca de 45% do PIB da região e que emprega 200 mil pessoas. E este tipo de legislação está a ser equacionada um pouco por toda a Espanha, com o país a tentar encontrar um equilíbrio entre uma das suas indústrias fundamentais e o acumular de movimentos cívicos que protestam contra o barulho, a desordem pública causada por embriaguez e da conversão de apartamentos residenciais em alojamentos turísticos.

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