Um Titanic destravado colide com a identidade
Transatlântico, encenação de Ricardo Neves-Neves para a Companhia Maior, pega num texto alucinado de Christopher Durang para lançar o delírio a bordo do Titanic. Sem DiCaprio e Winslet, mas talvez com um pouco de Céline Dion, desta quinta-feira a 26 de Junho em Lisboa, a 8 e 9 de Julho em Loulé.
Diz-se Titanic e os olhos enchem-se de imagens de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet como desmedido par romântico, os ouvidos são assaltados pela voz de Céline Dion, e a imaginação coloca-nos em rota de colisão com um icebergue. Só que Jack (DiCaprio) e Rose (Winslet) eram projecções ficcionais do realizador James Cameron, duas vidas inventadas entre as 2240 que seguiam, em 1912, a bordo do maior navio de passageiros jamais construído, fadado ao desastre. Mas antes já Christopher Durang, dramaturgo norte-americano dado a textos com generosas doses de delírio e de absurdo, fantasiara acerca de outras vidas que seguiam a bordo do Titanic. Por exemplo, Richard e Victoria, o seu par muito pouco romântico que iniciava a peça, de 1976, logo num desaguisado conjugal – Richard fazendo de pronto o seu coming out e confidenciando à mulher que era realmente feliz nos bares homossexuais de Londres, Victoria ripostando que o filho de ambos, Teddy, era filho apenas dela, fruto de um impulso quando certa noite se cruzou com um vagabundo numa praia.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.