Open House Porto abre portas de “casas comuns” onde também se vive a cidade
Com curadoria de uma arquitecta e um historiador, sétima edição do evento acontece em 74 espaços do Porto, Matosinhos, Gaia e Maia nos dias 2 e 3 de Julho. Com o receio do vírus e o fechar de portas dos lares, Open House virou-se para os equipamentos
O convite da Casa de Arquitectura para fazer a curadoria do Open House Porto surgiu ainda antes da pandemia. E Graça Correia e Joel Cleto puseram-se a imaginar uma edição onde os 100 anos da revolução liberal, assinalados em 2020, eram o mote. A ideia passava por celebrar a importância da arquitectura no desenho de infra-estruturas como a ponte da Arrábida, São Bento ou o metro, fazendo a ligação para a contemporaneidade e obras como o Intermodal de Campanhã ou o Bolhão. “Tudo isto caiu”, contou a arquitecta Graça Correia na apresentação da sétima edição do Open House, a decorrer nos dias 2 e 3 de Julho em 74 espaços do Porto, Matosinhos, Gaia e Maia.
O evento ficou sem efeito nesse ano de 2020 e regressou ainda tímido em 2021. Agora, apesar de acontecer já sem restrições motivadas pela pandemia, o Open House Porto não ignora as consequências do vírus que pôs o mundo de pernas para o ar. Com muita gente “ainda receosa de abrir as portas de casas”, Graça Correia e Joel Cleto encontraram nova epígrafe: “Habitar a cidade não é só residir nela. Viver a cidade é também viver os seus equipamentos.”
Sem ignorar a casa-lar, os curadores burilaram uma edição onde as “casas comuns” - os equipamentos - ganham protagonismo. Eleger os “preferidos” entre os 74 espaços (muitas vezes inacessíveis) que o público é convidado a visitar – livremente, acompanhado por voluntários ou especialistas convidados, mas sempre de forma gratuita – é, por isso, missão difícil. Mas à qual os curadores acederam. Graça Correia destacou as capelas mortuárias de Oliveira do Douro, em Gaia, equipamento que durante a pandemia se revelou de uma importância ainda maior “Todos nós vivemos o momento da despedida de alguém”, apontou, dizendo ainda que esse edifício foi capa de uma selecção internacional de obras de uma nova geração de arquitectos em Portugal. A própria Casa da Arquitectura e as Piscina das Marés, de Álvaro Siza, em Matosinhos, o centro de documentação João Álvaro Rocha, guardião da memória na Maia, e as novas casas da Escola de Ballet do Porto e da Escola Superior Artística do Porto foram outros destaques feitos pela arquitecta.
O historiador Joel Cleto - o primeiro curador da Open House que não é arquitecto - quis sublinhar a possibilidade de testemunhar a “evolução” dos equipamentos ao longo dos tempos. “Aquela que no século XVI era a mais bela quinta de lazer da Península Ibérica e é hoje um estabelecimento prisional” - Santa Cruz do Bispo - ou “aquele que era um dos grandes conventos do Porto e é hoje o quartel da GNR”.
A diversidade da selecção é grande e integra lugares como o Palácio da Justiça do Porto, “uma belíssima peça de arquitectura que insere manifestações artísticas de grandes nomes da arte portuguesa de meados da segunda metade do século XX”, cemitérios (haverá uma visita nocturna ao Prado do Repouso, no Porto), portos (com Leixões e o seu novo titã em destaque), o observatório astronómico no Monte da Virgem ou a Quinta dos Cónegos, na Maia, “uma das mais belas do Porto e hoje um equipamento cultural”.
Ajudar a população a “ver e entender melhor a arquitectura”, democratizando-a, é para Nuno Sampaio, director-executivo da Casa da Arquitectura, o objectivo maior. A apresentação do evento - onde estiveram representantes dos quatro municípios - ocorreu na Casa da Arquitectura. Mas só porque as previsões meteorológicas indicavam (erradamente) chuva. O plano inicial apresentava já um dos outros pontos em destaque nesta edição do Open House: o corredor do Leça, um dos rios mais poluídos da Europa que tem, finalmente, uma nova vida, entre Matosinhos e a Maia.