Bill Cosby considerado outra vez culpado de agressão sexual — agora, de uma menor
Caso de Judy Huth chegou ao fim com o júri a dar razão e uma indemnização à vítima, que descreveu como foi forçada pelo comediante e actor a um acto sexual quando ela tinha 16 anos.
O júri do tribunal californiano que julga o comediante Bill Cosby considerou-o culpado de agressão sexual de uma adolescente na Mansão Playboy em 1975, dando razão a Judy Huth e à sua queixa com mais de quatro décadas. A conclusão do julgamento e do processo cível foi divulgada na terça-feira à noite, hora de Lisboa, e é a sua segunda condenação por um tribunal de crimes sexuais contra mulheres em poucos anos.
Cosby foi libertado no ano passado após quase três anos na prisão depois da histórica decisão que o condenou por agressão sexual agravada a Andrea Constand. Não saiu da prisão por se considerar que afinal era inocente, mas sim por um recurso interposto pela sua defesa quanto a um acordo judicial prévio que impedia Bill Cosby de ser julgado por crimes contra Constand. Aos 84 anos, enfrentou agora este processo, que já existia e que ficou em banho-maria quando o caso de Constand foi a tribunal. O caso de Judy Huth é visto como uma das últimas possibilidades de confrontar e responsabilizar o outrora amado actor norte-americano com pelo menos uma das dezenas de acusações de diferentes mulheres sobre alegados actos criminosos cometidos ao longo de décadas.
A decisão do júri fez com que a vítima recebesse meio milhão de dólares de indemnização. O New York Times descreve um tribunal em silêncio enquanto foi proferida a sentença, e depois a felicidade de Huth ao abraçar os seus advogados — uma equipa encabeçada pela famosa e por vezes polémica Gloria Allred. “Sinto que me foi dada razão. É um grande, grande passo para todas as vítimas. Está na altura de ele pagar pelo que fez a tantas mulheres.”
Bill Cosby nega todas as acusações de que é alvo. Mas do acordo judicial que fez quando Andrea Constand o tentou processar em 2005 constam declarações suas em que admite usar sedativos para ter relações sexuais com mulheres, tendo também anuído que lhe deu um anti-histamínico com propriedades sedativas, relatou a Associated Press em 2014; e, noutra ocasião a revista Variety cita ainda a admissão de Cosby de ter tido relações sexuais com uma rapariga de 19 anos sob a influência de Quaaludes [sedativos e hipnóticos dependentes de receita médica também populares na década de 1970 como droga recreativa]. “Ela foi ter comigo aos bastidores. Dei-lhe Quaaludes. Depois tivemos sexo.” Huth relata como Cosby lhe deu álcool para depois a forçar a um acto sexual.
A administração, contra a sua vontade, de sedativos a mulheres com quem depois tinha relações sexuais sem o seu consentimento ou conhecimento é um traço comum das queixas das dezenas de mulheres que ao longo dos anos denunciaram Cosby.
Os seus advogados congratulam-se agora por não ter sido aplicada uma indemnização sancionatória ou punitiva — “uma vitória significativa para nós”, disse a advogada Jennifer Bonjean.
O processo de Huth não é o único que ainda aguarda nas linhas laterais por uma entrada no jogo judicial, mas muitos deles não puderam sequer avançar pelo facto de as leis e os prazos de prescrição em certos estados não permitirem queixas anos depois dos alegados crimes. O caso de Judy Huth, que conheceu Cosby num parque público na Califórnia durante uma filmagem quando estava com uma amiga, avançou porque a jovem era menor de idade na altura e porque a Califórnia mudou a lei alargando o período de denúncia para pessoas vítimas de abusos na infância.
Judy Huth tem hoje 64 anos. Bill Cosby tem 84 anos e não esteva presente em tribunal, tendo sido exibidos excertos de um testemunho previamente gravado — em 2015, no qual diz não conhecer Huth nem se lembrar de ter estado com ela na Mansão Playboy. Também foi mostrado um testemunho previamente gravado do falecido fundador da revista erótica Playboy e dono da mansão em torno da qual orbitavam dezenas de estrelas e mulheres em lendárias festas, com Hugh Hefner a dizer que seria “altamente improvável” haver menores de idade nas festas.