Do ponto mais fundo ao maior peixe do mundo, eis cinco proezas do mar
É nas águas dos oceanos que se têm registado muitos marcos nos últimos anos: a maior onda surfada na Nazaré, as viagens de poucos humanos até 11 mil metros de profundidade e o maior peixe que se conhece até hoje. O PÚBLICO seleccionou cinco recordes relacionados com o mar.
O oceano e os mares ocupam grande da superfície do planeta e escondem ainda muitos mistérios. Do que se sabe, há marcos fascinantes nos oceanos: o ponto mais fundo que se conhece tem quase 11 mil metros, os (cada vez menos) coloridos corais sarapintam milhares de quilómetros oceânicos, descobriram-se peixes que se julgavam extintos há milhões de anos e é nas águas azuis que vivem tanto o maior peixe que se conhece como o maior animal do planeta. A propósito da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, de 27 de Junho a 1 de Julho, em Lisboa, damos a conhecer algumas destas histórias.
O ponto mais fundo
A Fossa das Marianas é o ponto mais fundo do oceano e tem quase 11 quilómetros de profundidade (10.994 metros). Fica localizada no oceano Pacífico, perto das ilhas Marianas. Este ponto só foi alcançado por humanos em 1960, com a chegada de Don Walsh e Jacques Piccard ao Challenger Deep, uma ranhura nas profundezas da Fossa das Marianas. A viagem foi feita num batíscafo chamado Trieste e durou nove horas, ida e volta. Só deixaram de ser os únicos em 2012, quando o realizador James Cameron se aventurou nas profundezas pouco exploradas. Diz quem lá esteve que não há luz solar, que as águas são gélidas e que a pressão é enorme. Apesar do ambiente hostil, existe vida no fundo oceânico: peixes, crustáceos, plantas e vermes marinhos.
Até hoje, menos de 20 pessoas estiveram no ponto mais fundo dos oceanos, poucas mais do que aquelas que pisaram a Lua. Dentro deste recorde de profundidade, há outro marco: o explorador Victor Vescovo detém o recorde de mais visitas ao fundo da Fossa das Marianas. Foram oito vezes, a primeira delas em 2019. O norte-americano foi também a primeira pessoa a atingir os locais mais fundos dos cinco oceanos e a primeira pessoa que chegou tanto ao ponto mais fundo do mar como ao ponto mais alto do planeta, o Monte Evereste. Depois de quebrar o recorde de mergulho mais profundo, o explorador notou que até no ponto mais fundo do oceano se encontravam resíduos de plástico.
O maior peixe e o maior animal vivem no oceano
O tubarão-baleia (Rhincodon typus) é a maior espécie de tubarões e também o maior peixe do mundo. Estes tubarões medem cerca de 12 metros de comprimento (o tamanho de um autocarro), podendo até chegar aos 20 metros, e pesar cerca de 40 toneladas. As suas pintas brancas no dorso fazem com que sejam facilmente identificados. Movem-se lentamente e existem por todo o oceano, ainda que ao largo de Portugal continental não sejam muito comuns. Passam grande parte do seu tempo em águas superficiais e próximas de actividade humana. São muitas vezes apelidados de “gigantes gentis” por serem praticamente inofensivos: só comem plâncton, pequenos peixes e camarão. Ajudam a equilibrar as cadeias alimentares marinhas e são bons indicadores da saúde dos oceanos.
Apesar da sua dimensão, estes tubarões encontram-se ameaçados. Uma das razões é a colisão com navios: um estudo publicado em Maio mostrava que há uma “mortalidade escondida” destes animais e que muitos se afundavam no oceano depois de se cruzarem com as rotas de grandes barcos. O caso é ainda mais preocupante tendo em conta que os tubarões e as raias estão a desaparecer a um “ritmo alarmante”. Ainda que o tubarão-baleia seja o maior peixe, o título de maior peixe predador pertence ao tubarão-branco (Carcharodon carcharias).
Já o título de maior animal do mundo (e maior mamífero) pertence a outro gigante dos oceanos: é a baleia-azul (Balaenoptera musculus), que pode pesar até 160 toneladas e mede 24 metros, em média. O Livro dos Recordes do Guinness dá o exemplo de uma baleia-azul que foi apanhada em 1947 no oceano Antárctico: era uma fêmea que pesava 190 toneladas e media 27,6 metros. Uma outra fêmea que se crê ser a mais longa alguma vez documentada foi encontrada em Grytviken, na ilha Geórgia do Sul, no oceano Atlântico. Media 33,57 metros.
A maior onda surfada
Este recorde foi mudando de mãos e desde Maio de 2022 que a distinção de maior onda do mundo surfada na Nazaré pertence ao alemão Sebastian Steudtner. O novo recordista surfou uma onda de 26,21 metros, anunciou o Livro dos Recordes do Guinness. Ainda que o recorde só tenha sido atribuído e certificado agora, a onda já foi surfada a 29 de Outubro de 2020, na Praia do Norte, na Nazaré.
É a quinta vez que o galardão de maior onda do mundo é atribuído na localidade portuguesa. A dimensão das ondas é em parte causada pela presença do canhão submarino da Nazaré (o maior desfiladeiro submarino da Europa, com uma extensão de cerca de 200 quilómetros e que atinge os 5000 metros de profundidade), que modifica a forma como a ondulação se propaga. Foi celebrizada pelo norte-americano Garett McNamara, com o recorde atingido em 2011 numa onda de 23,77 metros de altura. Quando terminarem as medições do último Inverno, o galardão poderá mudar de mãos para o brasileiro Lucas Chumbo, que se crê ter ultrapassado o tamanho desta onda.
O maior período de gestação num peixe que é um “fóssil vivo”
Foi uma surpresa para os cientistas: um animal que se pensava extinto há mais de 60 milhões de anos estava, afinal, vivo nos nossos oceanos. Em 1938, no oceano Índico, foi descoberto um exemplar vivo. Por essa razão, o celacanto foi considerado por muitos como um verdadeiro fóssil vivo, ainda que os cientistas tenham refutado essa designação: “Por definição, um fóssil está morto e os celacantos evoluíram muito” desde que surgiram, explicou o biólogo Marc Herbin, do Museu de História Natural de Paris, citado pela agência Reuters.
Os celacantos surgiram há cerca de 400 milhões de anos, uns 170 milhões antes dos dinossauros. Os registos fósseis davam a entender que estes peixes teriam desaparecido durante a extinção em massa que ocorreu após a queda de um asteróide e levou à extinção dos dinossauros. Pensa-se que o celacanto seja um parente próximo do peixe que saiu da água e do qual descendem todos os animais terrestres.
Hoje, conhecem-se duas espécies de celacantos: o Latimeria chalumnae, que habita as águas da costa oriental africana, e o Latimeria menadoensis, que habita ao largo da Indonésia. Ainda que o género (uma categoria taxonómica mais abrangente do que a espécie) desse peixe descoberto em 1938 fosse diferente dos fósseis de celacanto que se conheciam, estes peixes partilham muitas características em comum e são distinguíveis pela sua forma e pelas suas barbatanas.
Em 2021, um estudo revelava uma nova surpresa sobre os celacantos: não só o seu tempo de vida é cinco vezes maior do que o esperado – podem viver cerca de 100 anos –, como as fêmeas carregam as suas crias durante cinco anos, que é o período de gestação mais longo que se conhece em qualquer animal. Os celacantos são ovovivíparos (reproduzem-se por ovos que são fecundados internamente e conservados até à eclosão) e só atingem a maturidade sexual por volta dos 55 anos. Estes animais podem chegar aos dois metros de comprimento e pesar cerca de 110 quilos.
O maior recife de corais
A Grande Barreira de Coral da Austrália não é um só recife, mas um conjunto de milhares, que se estendem ao longo de mais de 2000 quilómetros. Numa extensão total de 2027 quilómetros, esta barreira colorida na costa de Queensland detém o recorde de maior recife de corais do mundo e só pode ser visto completamente a partir do espaço. É o local com mais variedade destas estruturas garridas: serve de casa a mais de 400 tipos de coral, mas também a 1400 espécies de peixes, 4000 tipos de moluscos e a várias espécies ameaçadas, como os dugongos.
Ainda assim, os corais estão em perigo: estão a ser alvo de branqueamentos em massa sobretudo por causa do aquecimento global e também são atacados pela estrela do mar Acanthaster planci (conhecida como “coroa-de-espinhos”), que usa as suas enzimas digestivas para desfazer os tecidos dos corais. A presença de plásticos também aumenta em 20 vezes o risco de doenças nos corais, ao “roubar-lhes” luz e oxigénio e podendo levar consigo agentes patogénicos.