Oposição mantém o “não” aos pactos com Emmanuel Macron

Presidente francês iniciou uma ronda de contactos com os líderes partidários depois de ter perdido a maioria absoluta na Assembleia Nacional. Ninguém se mostrou disposto a uma aliança de longa duração, sobra a hipótese de negociar medida a medida.

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Christian Jacob, presidente de Os Republicanos, está a ser pressionado para se aliar a Macron, mas rejeita a possibilidade EPA/MOHAMMED BADRA / POOL

Não, não e não. Pela terceira vez em três dias, o líder de Os Republicanos afastou a hipótese de um entendimento que garanta a maioria absoluta a Emmanuel Macron na Assembleia Nacional. Desta vez, Christian Jacob afirmou-o directamente perante o chefe de Estado: “Voltei a dizer ao Presidente que não se coloca a questão de entrar em algo que poderia ser uma traição aos nossos eleitores. Fizemos uma campanha de oposição, vamos manter-nos na oposição de forma determinada, mas responsável.”

Depois da segunda volta das legislativas de domingo passado, em que ficou com uma maioria parlamentar relativa que o obriga a negociar, Macron iniciou na terça-feira uma ronda de encontros com os líderes dos diferentes partidos.

Christian Jacob foi logo o primeiro e confirmou que o caminho do Presidente para granjear novos apoios é estreito. Com o antagonismo declarado da Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), de Jean-Luc Mélenchon, e da União Nacional, de Marine Le Pen, a Macron não restam alternativas para formar alianças duradouras, forçando o Governo a negociar medida a medida.

Ainda não se sabe se o Presidente se pronunciará depois de terminadas as reuniões na quarta-feira, mas pelas palavras dos seus apoiantes é possível ter uma ideia do estado de espírito no Eliseu. “O Presidente da República está perfeitamente consciente do que se passou”, disse o líder do MoDem, um dos partidos que integrou a coligação Juntos. “Percebi que está em reflexão e pronto a tomar decisões úteis para o futuro”, acrescentou François Bayrou. Já Stanislas Guerini, do Renascimento (ex-República em Marcha), declarou-se confiante de que a coligação saberá “fazer emergir qualquer coisa de novo no Parlamento, que é a casa da democracia.”

Para o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, que lidera o também aliado presidencial Horizontes, algo de novo será “uma grande coligação” que seja “a maior possível” e que forneça a Macron “uma maioria estável indispensável”. E, excluindo Mélenchon e Le Pen da equação, passou de novo a batata quente para Christian Jacob e incluiu socialistas e Verdes, que correram sob a bandeira NUPES, entre os possíveis dialogantes.

À esquerda, a prioridade é outra. De manhã, cumprindo uma tradição política francesa, a primeira-ministra apresentou a sua demissão a Macron, que, também segundo a tradição, a recusou.

Mas a continuidade de Élisabeth Borne à frente do executivo pode não durar muito. “Esta mulher não tem nenhuma legitimidade, zero. Isto é uma democracia, não uma monarquia. A primeira tarefa do Governo é apresentar-se na Assembleia e pedir a sua confiança”, declarou Jean-Luc Mélenchon, acenando com a possibilidade de a NUPES avançar com uma moção de censura, que já um deputado tinha anunciado.

O líder da coligação de esquerda, que deixa de ser deputado oficialmente esta quarta-feira – uma vez que não foi candidato a nenhuma circunscrição nestas eleições –, aproveitou o último dia como eleito para receber e guiar pelos corredores os novos deputados de A França Insubmissa. E sem deixar cair a proposta que fez na segunda-feira para se constituir um grupo parlamentar único NUPES, recusada pelos restantes parceiros de aliança, comentou: “Talvez tenha sido demasiado rápido ontem.”

Uma das audições desta terça de Emmanuel Macron foi com Marine Le Pen, que se reafirmou como oposição ao Presidente e reclamou novamente uma vice-presidência da Assembleia e a liderança da comissão de Finanças.

Questionada num debate do canal France 5 sobre a possibilidade de haver entendimentos com a União Nacional que permitam a aprovação de leis, uma deputada do Renascimento não rejeitou a ideia. “Quando precisarmos de uma maioria e se for bom para os franceses, nós vamos procurar esses votos”, disse Céline Calvez. A própria escreveria mais tarde no Twitter que “nunca [fará] qualquer compromisso com a União Nacional”, mas a declaração televisiva já tinha então sido partilhada por vários dirigentes de esquerda, que viram nela um sinal de aproximação entre Macron e Le Pen.

Esse foi um tema que ocupou a semana de campanha que mediou as duas voltas das legislativas. Em 61 circunscrições, a segunda volta disputou-se entre candidatos da NUPES e da União Nacional e as hostes de Jean-Luc Mélenchon por várias vezes acusaram os candidatos da Juntos, derrotados na primeira volta, de não apelarem ao voto na coligação de esquerda para formar uma frente contra a extrema-direita. O Le Monde fez as contas: 32 candidatos da Juntos pediram aos seus eleitores que votassem na NUPES ou que não votassem União Nacional. Brice Teinturier, director do instituto de sondagens Ipsos, estima que 72% desses votantes preferiram não ir às urnas na segunda volta.

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