Covid-19: Especialistas vão traçar perfil dos doentes internados com doença grave e muito grave

O objectivo deste estudo é identificar factores de risco e melhorar a utilização das novas terapêuticas disponíveis para reduzir o risco de progressão para formas mais graves da infecção.

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O estudo vai incluir todos os doentes admitidos nos Serviços de Medicina Intensiva entre os meses de Fevereiro e Abril deste ano Manuel Roberto

A Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos (SPCI) e o Grupo de Infecção e Sepsis vão traçar o perfil dos doentes internados com covid-19 grave e muito grave, numa altura em que a maioria da população está vacinada.

Segundo o presidente da SPCI, Paulo Mergulhão, os dados a recolher neste estudo “são altamente relevantes para informar as decisões sobre utilização das novas terapêuticas disponíveis, que reduzem o risco de progressão para formas mais graves da infecção pelo SARS-CoV-2”.

“A experiência dos últimos meses sugere que a população de maior risco se compõe de dois grupos distintos. O primeiro inclui pessoas não vacinadas, o que é cada vez mais infrequente – uma dúvida acessória neste contexto é a duração da protecção conferida pela vacinação e o estudo CritCov22 também vai tentar explorar esta matéria”, explicou o especialista.

O segundo grupo, acrescentou, “é o de pessoas com compromisso significativo do sistema imunitário, nomeadamente receptores de transplantes de órgãos sólidos ou hematológicos, doentes expostos a terapêutica imunossupressora ou com outras formas de imunodepressão congénita ou adquirida”.

Esclarecer factores de risco

“É fundamental sistematizar estes dados de forma a esclarecer os verdadeiros factores de risco para desenvolvimento de covid-19 grave ou crítica”, sublinha Paulo Mergulhão.

O estudo vai incluir todos os doentes admitidos nos Serviços de Medicina Intensiva entre os meses de Fevereiro e Abril deste ano, com o diagnóstico de infecção pelo vírus SARS-CoV-2, “mesmo que este não seja a causa da admissão”, precisa o responsável.

Comparação entre grupos

Os dados a recolher serão epidemiológicos e de comorbilidades “com foco particular no risco de imunossupressão” e a comparação entre os grupos (infecção por SARS-CoV-2 e covid-19 grave ou crítica) “deverá contribuir para esclarecer os factores de risco actuais para desenvolvimento de doença grave”, frisa.

Será ainda possível recolher dados sobre o consumo de recursos e os resultados globais que deverão permitir avaliar o custo que o SARS-CoV-2 impõe actualmente aos serviços de medicina intensiva.

“Uma das grandes lições desta pandemia é a do potencial disruptivo para todo o sistema de saúde de uma situação de sobrecarga sustentada dos Serviços de Medicina Intensiva, com compromisso da sua capacidade de resposta”, disse o responsável.

Também considerou que isto tem reflexos “não só na doença crítica aguda, mas também em situações como procedimentos de elevada complexidade (como por exemplo cirurgia oncológica ou cardíaca) ou na necessidade de ocupar espaços, como blocos operatórios ou salas de recobro, com o consequente prejuízo da sua actividade programada”.

Paulo Mergulhão reconhece que a elevada taxa de vacinação no nosso país “conduziu a um aligeiramento das medidas de prevenção”, insistindo que estas “devem ser sempre relembradas”.

“A etiqueta respiratória, lavagem das mãos e utilização de máscaras nos contextos onde é recomendada continuam a ser medidas cuja importância não deve ser menosprezada. Sabemos que a vacinação reduz de forma muito importante o risco de desenvolvimento das manifestações mais graves da covid-19, mas não o elimina totalmente”, afirmou.

Lembra que actualmente “já existem alternativas farmacológicas, como anticorpos monoclonais”, aprovados pela Agência Europeia do Medicamento, para prevenção da covid-19 e que vários países da União Europeia “já definiram critérios para a sua utilização na protecção de doentes imunossuprimidos que não desenvolvem uma resposta adequada à vacinação”.

“Aguarda-se a sua disponibilização em Portugal e os dados recolhidos poderão ajudar a definir as populações alvo para este tipo de intervenção”, considerou.

Identificar grupos vulneráveis

A estas alternativas farmacológicas juntam-se os tratamentos já disponíveis em Portugal, como “as terapêuticas antivirais ou anticorpos monoclonais que são comprovadamente eficazes a reduzir o risco de progressão da infecção por SARS-CoV-2 para formas mais severas”.

“Tal como todos os outros, estes novos fármacos têm efeitos laterais conhecidos, interacções farmacológicas que podem ser relevantes, contra-indicações específicas e um custo que pode não ser despiciendo”, afirmou o especialista, sublinhando: “É por estes motivos que se torna fundamental a identificação de grupos ou populações com maior probabilidade de beneficiarem da utilização destas novas alternativas terapêuticas”.