Marcelo quer “visão de conjunto” na saúde e defende Temido: “o problema não é da pessoa A, B ou C”
Presidente da República diz haver problemas “muito urgentes”, “urgentes” e “estruturais” e defende ser o momento de “fazer o balanço do SNS” e “repensá-lo” numa “visão de conjunto”.
O Presidente da República defendeu esta segunda-feira a necessidade de “uma visão de conjunto” para o sector da saúde, alertando que “apagar fogos sectoriais pontuais” pode levar a questão de fundo a ser “empurrada com a barriga para a frente”. Questionado sobre se a ministra da Saúde teria condições para continuar, Marcelo Rebelo de Sousa insistiu que “o problema não é da pessoa A, da pessoa B, ou da pessoa C”.
À margem da sessão de encerramento da conferência “Dez anos do Conselho das Finanças Públicas”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o Presidente foi questionado pelos jornalistas sobre os problemas que se têm registado nas urgências de vários hospitais e se a ministra da Saúde teria condições para continuar.
O chefe de Estado repetiu, por várias vezes, que “o problema não é da pessoa A, da pessoa B, ou da pessoa C” e “nem sequer de um Governo, deste ou de outros”. “O problema de fundo é estrutural (...) Se quiser é um bocadinho de haver políticas diferentes entre governos, isto exige uma certa estabilidade de políticas”, defendeu.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que o Governo não está em funções sequer há três meses e defendeu que, numa altura em que a pandemia da covid-19 se estará a resolver, é o momento de “fazer o balanço do SNS” e, “numa visão de conjunto”, “repensá-lo”, avaliar quais os meios e definir o que é prioritário.
“Outra maneira é: vamos apagando os fogos, apaga-se esta semana um fogo, daqui a 15 dias apaga-se outro fogo. O grande problema disso é que acaba por se apagar fogos sectoriais pontuais, e a questão de fundo vai sendo empurrada com a barriga para a frente”, afirmou.
O chefe de Estado dividiu os problemas na saúde entre os “muitos urgentes” – em que inseriu as recentes falhas nos serviços de urgência e obstetrícia –, “os urgentes”, como a preparação para o Verão, e “os estruturais”, que exigem respostas de fundo, ao nível do investimento, da gestão e dos recursos.
“Essa visão de conjunto é bom que a sociedade a tenha para responder a perguntas como: os profissionais que temos são suficientes ou não são, em geral? Há áreas em que são e outras que não são? Há problemas de gestão, ou seja, os recursos são suficientes, mas geridos de forma desigual?”, elencou.
Para o chefe de Estado, a estas perguntas devem ser dadas respostas “com a perspectiva de conjunto” para não se correr o risco de “remendar de um lado, e depois de outro e depois de outro”.
“No fim da pandemia, esta é a altura para olhar para o conjunto e ver quais os problemas que são verdadeiramente fundamentais”, defendeu.
O Presidente da República considerou ainda que o SNS tem “enfrentado pressões que nunca tinha enfrentado”, numa sociedade “mais envelhecida” e “muito diferente da sociedade jovem do tempo em que nasceu o SNS”.
“Há novos desafios e perante novos desafios reajustar o SNS significa repensá-lo como um todo”, considerou. Para o chefe de Estado, o Plano de Recuperação e Resiliência e o pacote de fundos comunitários permitem, até 2027, “alguma folga” que permite investimentos na saúde. “A questão é saber o que é mesmo indispensável fazer”, apontou.