Entrada barrada e desregulada

Não peço o total acesso a estabelecimentos que se regem pelas leis de espaços comerciais privados, mas sim a regulamentação e legislação das práticas de selecção à entrada. O fenómeno carece de métricas, mas sabemos que, na maioria das vezes, resulta num processo aleatório de selecção por parte daqueles que se aproveitam de jovens que tentam aproveitar o restante da noite.

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Nelson Garrido

Em tempos de regulamentação e períodos de sensibilização, há uma indústria que pouco ou nada sofre de qualquer uma destas palavras: falo da indústria da noite.

Quantos de nós já fomos barrados à porta de um estabelecimento da noite por falta de motivo? Normalmente, exigem uma quantia exorbitante, sem razão aparente, ou então é proibida a passagem por motivo algum. Conjectura-se que é falta de determinado rácio de homens/mulheres ou a falta de dress code adequado, mas na verdade não há legislação para tal fenómeno.

O artigo surge após uma sexta à noite com entrada barrada. Um grupo, composto por membros de ambos os géneros, mete-se na fila e espera a sua entrada. Chegamos à porta e está um responsável do estabelecimento a fazer segurança do espaço e selecção da fileira. Surge a pergunta “Tem guest?”, a resposta surge com um não. Nunca percebi o fenómeno da guest, manobra de relações públicas, cujo valor acrescentado que possa trazer ao estabelecimento me provoca dúvidas. Também não percebo o uso de anglicismos na indústria da noite, tais como guest, dress code; há boas palavras equivalentes na língua portuguesa, como convidado ou indumentária.

De seguida, somos informados do valor de 300 euros que é exigido para a entrada no espaço. Não é a primeira rejeição num destes estabelecimentos ou a exigência de uma quantia avultada, mas desta vez a revolta surge pelas palavras que ouvi à entrada “É para darem valor.” De facto, é preciso dar valor aos deuses do Olimpo que gerem estes processos e ser bafejado com a sorte de entrar.

De acordo com a Deco, a placa de “Reservado o direito de admissão” já não poder ser afixada. No entanto, segundo a mesma, existem outros subterfúgios: “Muitos estabelecimentos contornam esta impossibilidade com métodos legítimos para condicionarem a entrada de clientes aos seus olhos menos ‘desejáveis’. Por exemplo, quando alegam que o espaço se destina, exclusivamente, a associados ou a membros. Se tal não corresponder à verdade, deve fazer queixa à ASAE, através do livro de reclamações.” Ainda que a ASAE seja responsável pela fiscalização deste tipo de estabelecimentos, também é por todas as áreas de segurança alimentar e fiscalização económica, ou seja, é quase impossível à agência averiguar todas as denúncias relacionadas com a área de consumo em Portugal.

Por isso, não peço o total acesso a estabelecimentos que se regem pelas leis de espaços comerciais privados, mas sim a regulamentação e legislação das práticas de selecção à entrada. O fenómeno carece de métricas, mas sabemos que, na maioria das vezes, resulta num processo aleatório de selecção por parte daqueles que se aproveitam de jovens que tentam aproveitar o restante da noite.

Pedir à maioria dos deputados eleitos da Nação é fútil, por isso peço aos deputados que têm menos de 30 anos, e talvez conheçam esta realidade, que regulem e submetam propostas que façam pela regulamentação dos estabelecimentos.

Migue Matos (PS), Alexandra Poço (PSD), Joana Sá Pereira (PS), Patrícia Gil Vaz (IL), Rita Matias (Chega), Alma Rivera (PCP), Miguel Rodrigues (PS), Eduardo Alves (PS), Bernardo Blanco (IL): os vossos pares pedem esclarecimento quanto a este tema. Uma das vossas missões, enquanto representantes da facção mais jovem da população, é resolver as suas problemáticas, investigar sobre os temas e trazer a lanterna do escrutínio. E, se não conseguirem, por todos os outros que já sofreram algum tipo de diferenciação à porta de um destes estabelecimentos, tornem-se o inimigo número um de forma a trazer mudança.

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