Mário Centeno diz que risco de crise financeira “não pode ser retirado da mesa”
Governador do Banco de Portugal diz que a Europa tem melhores condições para lidar com uma crise do que tinha em 2008 ou 2011, mas que há erros que não podem ser repetidos.
O governador do Banco de Portugal disse hoje que o risco de a actual crise económica se transformar numa crise financeira não pode ser descartado e sublinhou que o papel do BCE é garantir medidas para a acautelar.
“Do ponto de vista de um banco central, temos de garantir que esta crise económica que se desenha no horizonte – que é uma ameaça – não se transforme numa crise financeira. […] Esses riscos não podem ser retirados da mesa, porque nós temos sempre de ter medidas para os acautelar”, afirmou Mário Centeno, que participou na conferência CNN Portugal Summit, na Culturgest, em Lisboa.
Numa conversa com o director executivo da CNN Portugal, Pedro Santos Guerreiro, sobre a inflação e a política monetária, o antigo ministro das Finanças vincou que, do ponto de vista da política monetária, existe a disponibilidade a nível europeu de criar novos instrumentos que introduzam disciplina no mercado, “quando os diferenciais da dívida estarão para além dos fundamentos económicos”.
Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que vai criar um instrumento “anti-fragmentação” nos mercados de dívida, depois de países como Itália e Espanha verem os prémios de risco dispararem nos últimos dias, comparativamente à Alemanha.
“Se for bem desenhado, [este instrumento] nunca vai ser utilizado”, apontou Mário Centeno, explicando que “só a mera existência” da ferramenta vai prevenir certos comportamentos dos investidores.
Considerando que a Europa tem actualmente melhores condições para lidar com uma crise, do que tinha em 2008 ou 2011, o governador do Banco de Portugal sublinhou, no entanto, que há erros que não podem ser repetidos, como o “velho argumento” de incluir um “carácter penalizador” nas medidas, que considerou ser “uma tentação muito grande que existe na Europa”.
“Nós não podemos considerar que, na Europa, a dimensão de redução do risco e de solidariedade não vão a todo o momento de mãos dadas. Elas têm de ser coordenadas e foi exactamente isso que foi feito em 2020 [com a pandemia]”, defendeu Mário Centeno.
O responsável rejeitou a ideia de que o euro possa estar em risco, bem como a entrada num estado de “semi-pânico”, defendendo a necessidade de criar condições para que os salários subam e, assim, se retomar o “desejo” de levar a taxa de inflação para os 2%.