Protestos violentos na Índia contra novo sistema de recrutamento militar

Governo quer reduzir despesas e rejuvenescer Forças Armadas, mas os manifestantes dizem que vão perder acesso a um emprego estável e bem pago.

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Um manifestante detido em Calcutá no quinto dia de protestos ininterruptos Reuters/RUPAK DE CHOWDHURI

Pelo menos uma pessoa morreu e centenas ficaram feridas durante os violentos protestos que irromperam em vários estados da Índia contra o novo sistema de recrutamento militar. As manifestações decorrem ininterruptamente desde terça-feira, o dia em que o plano foi anunciado, e visam estações de comboios e autocarros, sedes locais e regionais do partido do Governo e outros edifícios públicos.

A nova forma de recrutamento, designada Agnipath (“caminho de fogo”), acaba com os contratos de longa duração para a generalidade dos soldados que entrem nas Forças Armadas. A partir de Setembro, os recrutas aceites prestarão serviço durante quatro anos e, depois desse período, 25% terão direito a um contrato por 15 anos. O Governo diz que a reforma tem como objectivo rejuvenescer as Forças Armadas indianas e diminuir drasticamente os custos com salários e pensões, que representam mais de metade do orçamento da Defesa.

Mas para milhares de jovens indianos o recrutamento militar é uma forma de sair da pobreza e de ter um emprego estável e relativamente bem pago. Muitos passam anos a preparar-se para as provas de entrada. “Um emprego nas Forças Armadas traz muito respeito. Além de servirmos o país, podemos viver uma vida decente”, explicou Roshan Singh, de 21 anos, ao The Indian Express, acrescentando: “Tenho muito poucas opções. Eu só sei correr bem.”

Os protestos têm decorrido sobretudo nos estados de Bihar, Uttar Pradesh e Telangana. Foi nos arredores da capital deste último, em Secunderabad, que na sexta-feira uma pessoa morreu quando a polícia abriu fogo contra uma multidão que invadiu a estação ferroviária e pegou fogo a carruagens. Noutras cidades também foram incendiados comboios e autocarros, assim como as instalações do Partido do Povo Indiano, que está no poder.

Neste domingo, com milhares de pessoas novamente nas ruas, o Governo recusou voltar atrás no plano Agnipath. “Esta reforma era há muito urgente. Querermos trazer juventude e experiência com esta reforma. Hoje, um grande número de recrutas está nos 30 anos e os oficiais recebem um comando muito mais tarde do que no passado”, disse o general Anil Puri, do Departamento de Assuntos Militares.

Segundo o plano divulgado, o Agnipath vai destinar-se a pessoas entre os 17 anos e meio e os 21 anos. Numa tentativa de acalmar os manifestantes, o Governo anunciou que este ano, excepcionalmente, vai alargar o concurso de recrutamento até aos 23 anos, uma vez que em 2020 e 2021 não houve provas devido à covid-19.

Por outro lado, o ministro da Defesa, Rajnath Singh, argumentou que o novo sistema “vai proporcionar uma força de trabalho mais qualificada à economia” indiana. E o Governo divulgou uma série de benefícios para os recrutas ao fim de quatro anos, que incluem acesso prioritário a empréstimos bancários, um prémio financeiro de 120 mil rupias (cerca de 1400 euros) e entrada prioritária nas forças policiais.

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