Gases libertados pela vegetação podem ter contribuído para fogo explosivo em Pedrógão

Projecto de investigação analisa a hipótese de compostos de agulhas de pinheiro e folhas de eucalipto terem ajudado a formar o downburst.

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O incêndio de há cinco anos em Pedrógão Grande fez 66 mortos Adriano Miranda

É um acontecimento extremo e, por isso, raro, o que faz com que esteja mal descrito na literatura científica. Cinco anos depois do incêndio de Pedrógão Grande, ainda há perguntas sobre o downburst que tornou o incêndio de 17 de Junho de 2017 incontrolável, mas há um projecto de investigação em curso para tentar encontrar algumas respostas.

“A explicação que demos na altura está correcta: houve uma queda da coluna de convexão que foi importante” para o desenrolar dos acontecimentos, introduz o professor do Instituto Superior de Agronomia, Francisco Castro Rego, que é co-investigador responsável no projecto Extreme, que explora a possibilidade de gases libertados pela própria vegetação (designados compostos orgânicos voláteis) terem contribuído para o comportamento extremo do fogo.

A equipa liderada pelo professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL), Pedro Vieira, explora a hipótese de os gases libertados sobretudo pelas agulhas dos pinheiros e pelas folhas dos eucaliptos se terem “acumulado em zonas específicas” e terem assim “criado as condições para que, à mínima ignição, ela tenha sido explosiva”, refere Castro Rego. O termo de comparação que o académico usa é o da activação de um interruptor numa casa em que o gás foi deixado aberto. Estes gases são “são quatro ou cinco vezes mais pesados que o ar. Não se dispersam facilmente e podem acumular-se em zonas de depressão, como baixas agrícolas ou estradas”, descreve.

As filmagens captadas a partir da torre dos bombeiros de Pedrógão naquele 17 de Junho de 2017 “são muito elucidativas de alturas em que esse tipo de comportamento explosivo aconteceu, mesmo a centenas de metros de altitude”. Os elementos “de carácter mais explosivo e intenso aumentaram a coluna de convexão”, que, não tendo energia suficiente para continuar a ascensão, “cai”. “O downburst poderá ter sido o segundo momento”, aponta.

Os resultados preliminares do estudo, que envolve também investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, deverão ser apresentados em meados de Julho.

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