Juros da dívida portuguesa aliviam com anúncio do BCE

Taxas implícitas às transacções de Obrigações do Tesouro de Portugal e Espanha recuaram do patamar dos 3%.

Foto
O BCE, sediado em Frankfurt, diz que as medidas de política monetária serão tomadas com flexibilidade Reuters/WOLFGANG RATTAY

Assim que se soube que o conselho do Banco Central Europeu (BCE) ia reunir-se de emergência na manhã desta quarta-feira para discutir a “situação nos mercados”, a pressão sobre as taxas de juro da dívida dos países do Sul da zona euro baixou, embora o alívio não se tenha acentuado de forma expressiva depois de a instituição anunciar como pretende “actuar contra o ressurgimento de riscos de fragmentação” entre os países que partilham a moeda única.

As taxas de juro implícitas relativas à dívida portuguesa transaccionada no mercado secundário baixaram de forma acentuada durante o dia, para cerca de 2,8%. Na véspera, tinham superado os 3%, o culminar de subidas consistentes desde quarta-feira da semana passada, quando os mercados já antecipavam que o BCE iria anunciar o fim do principal programa de estímulos económicos e preparar uma subida das taxas de juro de referência.

No mercado secundário são transaccionados títulos de dívida soberana que já se encontram em circulação, nas mãos dos investidores, sendo os juros implícitos das operações e das intenções de compra e venda um indicador sobre a trajectória do mercado em relação aos títulos soberanos de um país, importante para quando se realizam emissões de bilhetes ou de obrigações no mercado primário.

Portugal foi ao mercado nesta quarta-feira emitir dívida pública de curto prazo, conseguindo obter 500 milhões de euros em Bilhetes do Tesouro que vencem em Setembro. O Estado continuou a conseguir taxas de juro negativas (ou seja, continua a receber pela emissão da dívida), mas já não aos valores alcançados num leilão a 20 de Abril. A taxa foi de -0,302%, o que compara com -0,655% anteriores.

“Portugal iniciou o ano com a taxa a dez anos nos 0,465% que agora está nos 3%”, nota o analista de mercado Filipe Silva, do Banco Carregosa, explicando, numa nota enviada às redacções: “a subida abrupta a que estamos a assistir em todas as geografias” é um efeito secundário da inflação, dos impactos da guerra e do facto as empresas ainda estarem a lidar com a falta de stocks.

As taxas implícitas às Obrigações do Tesouro de Espanha no mercado secundário registaram uma tendência idêntica às de Portugal, recuando durante o dia para os 2,89%. Também na terça-feira tinham ultrapassado a barreira dos 3%.

Os títulos de Itália, a terceira maior economia da zona euro, também já estavam a recuar enquanto decorria a reunião do BCE e, horas depois, continuavam em queda, caindo do patamar dos 4% a que chegaram no início desta semana, para se fixarem nos 3,9%.

Outro país que poderá beneficiar da acção do BCE é a Grécia, cujas taxas de juro baixaram para 4,2% depois de terem chegado aos 4,7% na terça-feira. Ainda assim, os valores continuam acima dos registados há apenas um mês, quando o mercado já apostava que o BCE iria anunciar uma retirada dos estímulos económicos e uma subida das taxas de juro de referência do BCE para Julho, como se confirmou no anúncio da semana passada.

A reunião extraordinária desta quarta-feira decorreu apenas seis dias após o encontro regular no qual o BCE formalizou a sua estratégia de “normalização” da política monetária para os próximos meses, para combater a inflação e, ao mesmo tempo, evitar uma travagem brusca da economia europeia.

Nesta quarta-feira, o conselho o BCE reconheceu que essa trajectória é desigual entre os 19 países do euro e decidiu anunciar duas medidas para tranquilizar os mercados.

A primeira diz respeito ao programa de compra de activos lançado para responder à emergência pandémica (conhecido como PEPP). Depois de ter dito na semana passada que até, pelo menos, ao final de 2024 continuará a reinvestir os pagamentos de capital dos títulos que vençam entretanto, o BCE anunciou que irá fazê-lo com “flexibilidade”, com o objectivo de “preservar o funcionamento do mecanismo de transmissão da política monetária, uma condição prévia para que o BCE possa cumprir o seu mandato de manutenção da estabilidade de preços”.

A segunda decisão passa por acelerar o processo de lançamento de “um novo instrumento contra a fragmentação” na zona euro.

“Desde que o processo gradual de normalização da política monetária foi iniciado em Dezembro de 2021, o Conselho do BCE comprometeu-se a actuar contra o ressurgimento de riscos de fragmentação. A pandemia deixou vulnerabilidades duradouras na economia da área do euro, as quais estão efectivamente a contribuir para uma transmissão desigual da normalização da nossa política monetária entre jurisdições”, admite o banco central no comunicado divulgado nesta quarta-feira.

Nas bolsas europeias, o dia foi de ganhos entre os principais índices, incluindo no STOXX Europe 600, que encerrou a subir 1,5%.

A Bolsa de Frankfurt cresceu 1,36%, Milão valorizou-se 2,87%, Atenas subiu 1,96%, Paris avançou 1,35%, Madrid cresceu 1,34% e Amesterdão subiu 1,58%. Lisboa teve um ganho mais modesto, de 0,42%.

Sugerir correcção
Comentar