Nos últimos meses, centenas de cadáveres de pinguins deram à costa nas praias da Ilha do Norte, na Nova Zelândia. O caso mais recente deste fenómeno foram 183 kororā, ou pequenos pinguins-azuis, encontrados em Ninety Mile Beach, na semana passada.
De acordo com o The Guardian, o principal consultor científico do Departamento de Conservação da Nova Zelândia (DOC), Graham Taylor, estima que, desde o início de Maio de 2022, mais de 500 pinguins já tenham aparecido nas praias, um número que pode estar a aproximar-se dos 1000.
A espécie de pinguins mais pequenos do mundo, nativa da Nova Zelândia, foi classificada pelo DOC como estando “em risco, em declínio”. Na mesma semana em que surgiram os 183 pinguins em Ninety Mile Beach, outros 100 foram descobertos, já em decomposição, na praia vizinha de Cable Bay. Também no final de Maio, outro grupo de 109 kororā mortos tinha sido fotografado pelos locais em Ninety Mile Beach, no mesmo mês em que um morador encontrou quatro dezenas em Tokerau Beach.
Ao que tudo aparenta, a causa não são infecções ou toxinas que pudessem estar a afectar as colónias. A conclusão do estudo levado a cabo pelo Ministério das Indústrias Primárias da Nova Zelândia, diz Graham Taylor, é que os pinguins estão a morrer de fome.
“Todos os pinguins foram encontrados com um peso muito abaixo do normal. Este tipo de aves deveria ter cerca de 800 a 1000 gramas, mas tinham cerca de metade desse peso”, explica o consultor do DOC. “Não havia gordura corporal neles, quase não havia músculo para mostrar. Quando chegam a este estado de emagrecimento, não podem mergulhar.”
Passado algum tempo, as aves morrem de fome ou hipotermia, devido à falta de gordura corporal necessária para os manter quentes.
“Muitos mais pinguins vão ser encontrados”
O Departamento de Conservação da Nova Zelândia crê que a culpa deve recair sobre as alterações climáticas. O aumento da temperatura das águas torna-as demasiado quentes para os peixes que servem de alimento aos kororā. Em resposta, os peixes procuram águas mais profundas — e mais frias —, deixando os pinguins sem subsistência.
“Esta pequena espécie [de pinguim] pode mergulhar, por norma, até 20 ou 30 metros, mas não é tão boa a mergulhar muito mais fundo do que isso”, afirma Graham Taylor.
As mortes em massa de aves marinhas não são um acontecimento inédito. Contudo, desta vez, o que motiva a preocupação é a frequência, diz Taylor. Na última década, o especialista diz que existiram pelo menos três anos de mortes em massa, e a frequência destes fenómenos está a aumentar.
Ian Armitage, conselheiro da Birds New Zealand (a Sociedade Ornitológica da Nova Zelândia), que conduz patrulhas nas praias para monitorizar o número de aves marinhas mortas, garante que o número de pinguins encontrados este ano foi excepcionalmente elevado, principalmente na zona Norte. As recentes tempestades e elevada temperatura das águas fazem prever mais mortes em massa. “Este fenómeno provavelmente não acabou e continuará durante o Inverno”, disse Armitage, ao The Guardian. “Muitos mais pinguins vão ser encontrados.”
Texto editado por Amanda Ribeiro