Turquia ameaça fechar porta da NATO por um ano, Suécia cede e muda leis
O Governo de Erdogan insiste no bloqueio à entrada da Suécia e Finlândia da NATO e afirma poder mantê-lo por mais um ano, caso não sejam respeitadas as exigências de Ancara. Na Suécia, estão a ser preparadas alterações à legislação para tranquilizar o Presidente turco.
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O Governo turco afirmou estar preparado para adiar a entrada da Suécia e Finlândia na NATO por mais um ano, caso não receba garantias de que os países do Norte europeu irão agir quanto ao apoio a grupos turcos, que Recep Tayyip Erdogan considera “organizações terroristas”.
A Turquia tem deixado avisos sobre um travão às candidaturas dos dois países à NATO, e a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, já reconheceu que o processo de adesão pode complicar-se caso as divergências entre os países não sejam resolvidas antes da cimeira da Aliança Atlântica, que começa a 29 de Junho, em Madrid. “Se não resolvermos estas questões antes de Madrid, corremos o risco de congelar o processo.”
“Esta é uma questão de interesse nacional, e estamos preparados para impedir a adesão por um ano, se necessário”, afirmou Akif Çagatay Kiliç, deputado do Partido da Justiça e Desenvolvimento, actualmente no poder. “A Turquia é o segundo maior exército da NATO e tem fornecido os drones que ajudam a Ucrânia a defender-se. Merecemos mais respeito.”
Na perspectiva de Kiliç, também presidente da comissão para os Negócios Estrangeiros do Parlamento turco, a Turquia tem respeitado sempre os deveres e responsabilidades que lhe cabem enquanto membro da Aliança.
“O que é que [a Suécia e a Finlândia] vão fazer? Têm dado abrigo a organizações terroristas que matam o meu povo, desrespeitam as minhas fronteiras, representam uma ameaça à existência do meu país”, justificou, citado pelo The Guardian. “A única coisa que exigimos é que não existam distinções. Uma organização terrorista é uma organização terrorista.”
Erdogan considera que os dois países nórdicos, em particular a Suécia, estão a proteger terroristas ao acolher curdos ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e às Unidades de Defesa do Povo (YPG).
Além disso, Suécia e Finlândia proibiram a exportação de armas para Ancara devido às ofensivas militares turcas na Síria em 2019, decisão que desagradou a Erdogan.
No final de Maio, o Presidente turco continuava a mostrar-se inflexível e acusou Estocolmo e Helsínquia de não levarem a sério as negociações com a Turquia: “As conversas da nossa delegação com as delegações sueca e finlandesa não estiveram ao nível daquilo que esperávamos”.
Desde então, Suécia e Finlândia têm, no entanto, reunido esforços para tentar tranquilizar o chefe de Estado da Turquia, sublinhando a importância do combate ao terrorismo e considerando a possibilidade de retomar a venda de armas à Turquia.
Um relatório para a política externa da Suécia, divulgado na passada sexta-feira, refere legislação antiterrorismo mais dura, que deverá entrar em vigor a partir de 1 de Julho. A lei permitirá, por exemplo, que os serviços secretos suecos tenham maior autonomia para monitorizar as comunicações de suspeitos associados a grupos terroristas.
Em visita a Magdalena Andersson, primeira-ministra sueca, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, confirmou as mudanças em marcha na legislação e a intenção de serenar as preocupações de Ancara.
Mas os pedidos de Erdogan vão mais longe: a deportação de activistas curdos para a Turquia, o afastamento do ministro da Defesa sueco, Peter Hultqvist e o corte de relações com a administração autónoma curda na Síria, apoiada pelos Estados Unidos.
Ainda que as tensões entre os governos da Turquia e da Finlândia sejam menos vincadas, é improvável que os dois países nórdicos se separem no processo de candidatura à Aliança Atlântica.