Guterres diz que nova aposta em combustíveis fósseis é “ilusória”

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, alguns países passaram a investir em novas prospecções de petróleo e gás para reforçar os suprimentos de energia.

Foto
Guterres criticou novos investimentos em combustíveis fósseis numa cimeira na Áustria Reuters/Andrew Kelly

Os países ricos fizeram uma caça perigosa aos combustíveis fósseis em resposta à guerra na Ucrânia, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, nesta terça-feira. Guterres avisou que os novos investimentos feitos em carvão, petróleo e gás são “ilusórios”, uma vez que escondem grandes impactes climáticos.

“A crise energética exacerbada pela guerra na Ucrânia viu uma perigosa duplicação dos combustíveis fósseis pelas principais economias”, disse António Guterres num discurso por videoconferência na Cimeira Mundial Austríaca sobre o clima.

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em Fevereiro, alguns países passaram a comprar mais combustíveis fósseis não russos ou investir em novas prospecções de petróleo e gás para reforçar os suprimentos de energia.

A Alemanha e a Holanda, por exemplo, anunciaram este mês planos para desenvolver uma nova exploração de gás no Mar do Norte. O chanceler Olaf Scholz também disse que a Alemanha quer explorar projectos ligados à extracção de gás com o Senegal.

A empresa estatal QatarEnergy está a trabalhar na expansão da plataforma North Field East como parte do maior projecto de gás natural liquefeito do mundo. O Reino Unido está também a financiar um projecto de gás natural líquido em Moçambique.

Guterres disse que “novos financiamentos para a infra-estrutura de exploração e produção de combustíveis fósseis são ilusórios”. E que estes investimentos vão agravar os problemas globais de poluição e mudanças climáticas.

Os cientistas afirmam que as emissões globais de dióxido de carbono precisam ser cortadas pela metade até 2030, permitindo assim alcançar a neutralidade carbónica até 2050 para evitar os piores impactos da crise climática.

Os países que fazem novos investimentos em combustíveis fósseis têm metas para reduzir as emissões de CO2 até 2030. A Alemanha disse que a diversificação dos suprimentos de gás de curto prazo não inviabilizaria os compromissos climáticos assumidos após o início da invasão russa, que consistem na redução do uso de combustíveis fósseis e na aposta em energias renováveis.

A Agência Internacional de Energia pediu o fim de novos projectos de petróleo, gás e carvão para atingir as metas climáticas globais e frisou que os investimentos em energia renovável devem triplicar até 2030. Guterres pediu aos actores financeiros que financiem as energias renováveis.

“Se tivéssemos investido de uma forma robusta em energia renovável no passado, não estaríamos tão dramaticamente à mercê da instabilidade dos mercados de combustíveis fósseis como estamos agora”, disse Guterres, observando que os preços crescentes do petróleo e do gás aumentaram as contas de energia globalmente.