Ministra da Saúde reuniu-se com responsáveis de hospitais de Lisboa e Vale do Tejo

Para a parte da tarde, estão marcadas reuniões com a Ordem dos Médicos (OM) e os sindicatos do sector. A OM sugere que médicos reformados possam fazer urgências em regime de prestação de serviços

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Ministra da Saúde está numa reunião de emergência por causa da falta de médicos LUSA/RODRIGO ANTUNES

A ministra da Saúde e o secretário de Estado Adjunto e da Saúde estiveram, nesta segunda-feira, reunidos de emergência com os directores clínicos dos hospitais da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) mais afectados pela falta de médicos que tem impedido que todas as escalas das urgências de ginecologia e obstetrícia sejam asseguradas nos últimos dias.

Para a parte da tarde, estão marcadas reuniões com responsáveis da Ordem dos Médicos (OM) e os sindicatos do sector, confirmou ao PÚBLICO o Ministério da Saúde.

O bastonário da OM, Miguel Guimarães, parte para este encontro com uma expectativa “positiva”. “Acho que nós temos de ter sempre esperança de que é possível resolvermos os casos mais agudos com algumas medidas que sejam eficazes e rápidas de aplicar”, afirmou Miguel Guimarães à RTP.

Enfatizando que o problema não se restringe à especialidade de ginecologia-obstetrícia, ainda que este seja o mais preocupante, o bastonário lembrou que também existem constrangimentos “na pediatria, na anestesiologia, na cirurgia geral, etc”.

Para evitar que o cenário dos últimos dias se repita, Miguel Guimarães frisou que é necessário que a contratação de médicos passe a ser mais rápida e “mais centrada nas próprias unidades de saúde e menos em concursos a nível nacional que acabam por não ser eficazes”.

Desde sexta-feira que os hospitais das Caldas da Rainha, Santarém, Setúbal, Barreiro, Almada, Loures, Amadora-Sintra e São Francisco Xavier (Lisboa) estiveram com problemas e com as urgências de ginecologia e obstetrícia encerradas durante algum tempo. Algumas continuam esta segunda-feira a funcionar com limitações.

A falta de médicos para assegurar todas as escalas nestes serviços já é antiga mas o problema ganhou maior visibilidade depois de, na madrugada de quarta para quinta-feira da semana passada um bebé ter morrido no Hospital das Caldas da Rainha, onde a urgência de obstetrícia estava encerrada. O caso está a ser investigado pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde e pela Entidade Reguladora da Saúde.

Ordem pede dados sobre mortalidade materna​

O fecho ou condicionamento dos serviços de urgência por falta de médicos é, aliás, um problema que se verifica em todo o país e ocorre sobretudo nos períodos de fins-de-semana prolongados e de férias. Actualmente há uma limitação que afecta ainda mais o funcionamento dos serviços - o facto de haver médicos com covid-19, que, por esse motivo, não podem trabalhar durante vários dias.

A Ordem dos Médicos pediu já dados actualizados ao Governo sobre a assistência à gravidez e ao parto e da mortalidade materna e perinatal, por considerar que é importante saber o está a acontecer, adiantou o bastonário à Lusa.

“Precisamos de saber os dados sobre a maternidade materna e perinatal, o número de internamento em cuidados intensivos de grávidas e recém-nascidos, partos fora do hospital, partos no domicílio, taxas de cesarianas, partos instrumentados, episiotomia”, disse Miguel Guimarães, adiantando que enviou no domingo um ofício à ministra da Saúde com sugestões de medidas a tomar no imediato e a médio prazo para “tentar ajudar a resolver a situação” nesta área.

Na seu entender, são “dados importantes” para compreender as causas do aumento da mortalidade materna e perinatal. “Será que é por causa destas questões das equipas não estarem adequadas? Será que estão a fazer cada vez mais partos em casa e há mais complicações porque alguns complicam e enquanto as parturientes chegam e não chegam aos hospitais acontecem situações dramáticas?”.

Entre as medidas sugeridas, o bastonário destacou a possibilidade de prestação de serviço por médicos reformados, que já demonstraram interesse em colaborar, fazendo urgências, o que lhes está vedado legalmente.

Miguel Guimarães revelou ainda que está em cima da mesa a hipótese de fazer uma auditoria clínica ao hospital das Caldas da Rainha, onde uma grávida perdeu o bebé, para perceber as causas da situação, “que seguramente não tem a ver com os médicos”. Anunciou também que a OM vai fazer visitas a três unidades hospitalares, uma no Norte, outra no Centro e outra no Sul do país.