75 milhões de euros depois (e mais alguma coisa), Darwin já não é jogador do Benfica

Em tese, todos saem felizes: o Benfica recebe muito dinheiro, Darwin sobe na vida, o Liverpool consegue o avançado da moda e Klopp recebe um jogador que encaixa em alguns dos preceitos do seu modelo de jogo.

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Darwin celebra pelo Benfica Reuters/RODRIGO ANTUNES

Darwin Núñez já não é jogador do Benfica. Depois de vários dias de rumor, o avançado uruguaio foi confirmado neste domingo como reforço do Liverpool, num negócio que renderá ao clube português 75 milhões de euros, mais 25 milhões a poderem entrar nos cofres mediante o cumprimento de objectivos não divulgados.

Com esta transferência, Darwin torna-se o segundo jogador que mais rendeu ao Benfica – só os 120 milhões de João Félix o superam – e é, até ver, a transferência mais cara deste mercado de Verão, tendo em atenção os 100 milhões que podem custar aos cofres do Liverpool - Tchouaméni custou 80 milhões de euros ao Real Madrid e Haaland 75 milhões ao Manchester City. É também o investimento mais caro da história do Liverpool batendo os 84,6 milhões de euros pagos por Van Dijk.

A chegada de Darwin ao Liverpool significa, para o Benfica, o acerto numa aposta de risco. Em 2020, os “encarnados” pagaram 24 milhões de euros por um avançado que nunca tinha jogado numa primeira divisão europeia – estava no Almería, do segundo escalão espanhol – e que nem tinha sido o melhor marcador desse campeonato.

Darwin, que ainda é o investimento mais avultado da história do clube, era até um jogador que apresentava valores de eficácia na finalização algo frágeis, traço que o uruguaio até confirmou nos primeiros meses em Lisboa – este texto do PÚBLICO abordava o assunto.

Saiu da cauda da Europa

Mas tudo mudou em 2021/22. Tal como este texto também explicou, o jogador, que já tinha mostrado predicados num futebol de transições, subiu consideravelmente a capacidade finalizadora como jogador de área em ataque posicional.

Além dos bons números na Liga portuguesa (26 golos e quatro assistências), Darwin provou ainda que a “montra” europeia não é um jargão futebolístico trivial.

O jogador, que marcou meia dúzia de golos na Champions, teve desempenhos tremendos frente a equipas como Barcelona e Bayern de Munique – com golos envolvidos – e teve, depois, a possibilidade de se mostrar ao novo treinador. E é difícil dizer que esses jogos não tiveram impacto no desfecho que agora conhecemos.

Na eliminatória frente ao Liverpool, Darwin marcou a jogar pelo centro e destacou-se também pela velocidade a jogar pelo corredor esquerdo, bem perto da linha lateral onde circulava Jürgen Klopp. Em suma, não só marcou golos como teve a possibilidade de exibir os diversos predicados em mais do que uma posição. Melhor era difícil.

E Klopp não teve pudor em elogiar o jogador após essa eliminatória. “É muito bom jogador. Já o conhecia, claro, mas ele jogou à minha frente. É duro, fez frente ao Konaté, é fisicamente forte, rápido. E foi muito tranquilo na hora de finalizar. Se ele continuar com saúde terá uma grande carreira”, apontou o alemão.

Caso mais motivos faltassem, o próprio Virgil van Dijk, central do Liverpool, prestou-se a colocar Darwin num lote de luxo, quando questionado sobre os jogadores que mais problemas lhe causaram até hoje. “O Agüero era um avançado incrível. Depois, o Messi é o melhor jogador da história, na minha opinião. O Mbappé é diferente, é rápido. E há diferentes tipos de jogadores, como o Haaland e o Darwin. É muito difícil jogar contra esses jogadores”, disse em Maio, em entrevista ao Five, um canal de Youtube.

Como encaixa em Liverpool?

Em Inglaterra, Darwin terá de provar as virtudes que mostrou nesta temporada, mas isso não chegará. Apesar de gostar de transições e ataque ao espaço, o Liverpool é uma equipa que passa muito tempo em ataque posicional e a jogar em pouco espaço, pelo que as “arrancadas” em profundidade nem sempre estarão ao dispor do uruguaio.

Mais: no “onze” de Klopp, o jogador que actua como avançado-centro tem de dar apoios frontais, jogar de costas, combinar ao primeiro toque e abrir espaços, algo que Darwin ainda não tem feito com total brilhantismo. Klopp terá de trabalhar esse detalhe com o jogador, mas, em tudo o resto, parece ser um casamento de sucesso.

O Liverpool tem jogado muitas vezes sem um verdadeiro avançado, pelo que Darwin é, em tese, o candidato a lutar com Firmino pelo lugar de ponta-de-lança – saiu Origi, jogador de características semelhantes às do ex-Benfica.

Mas também será, por certo, chamado a dar uma ajuda na esquerda, como alternativa a Luis Díaz e Diogo Jota (Sadio Mané deverá sair neste Verão).

Em tese, todos saem felizes: o Benfica recebe muito dinheiro, Darwin sobe na vida, o Liverpool consegue o avançado da moda sem chegar aos 100 milhões de euros e Klopp recebe um jogador que encaixa em alguns dos preceitos do seu modelo – e os que faltam, e eles existem, poderão perfeitamente ser trabalhados num jogador que ainda tem apenas 22 anos.

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