Empresas globais não têm planos credíveis para reduzir emissões

Relatório anual do Net Zero Tracker refere que muitos dos planos de neutralidade carbónica das maiores empresas cotadas em bolsa ou são insuficientes ou inexistentes.

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O consórcio Net Zero Tracker avalia os dados públicos disponíveis de cerca de 200 países, bem como de grandes empresas cotadas em bolsa, incluindo aquelas de combustíveis fósseis Reuters/Carlo Allegri

Os planos das empresas para reduzir as emissões de gases com efeito estufa estão muito aquém do que é necessário para aliviar o impacte das mudanças climáticas, com “grandes lacunas de credibilidade” detectadas nas maiores companhias do mundo. É o que indica um novo balanço dos esforços feitos tanto no sector público como no privado para alcançar a neutralidade carbónica, um documento elaborado anualmente pelo consórcio Net Zero Tracker.

Cerca de metade das empresas que integram o ranking Forbes 2000 ainda não anunciaram planos para atingir o patamar de “emissões líquidas zero” – o ponto em que as emissões de gases de efeito estufa são quase anuladas por cortes profundos na produção, bem como métodos para absorver o dióxido de carbono atmosférico. Das 702 empresas que dizem ambicionar a neutralidade carbónica, dois terços ainda não deixaram claro como planeiam atingir essa meta, refere a Net Zero Tracker no relatório anual.

O Net Zero Tracker – gerido pela Universidade de Oxford e pela Unidade de Inteligência da Energia e do Clima (ECIU, na sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos com sede no Reino Unido – avalia os dados públicos disponíveis de cerca de 200 países, bem como de grandes empresas cotadas em bolsa, incluindo aquelas ligadas aos combustíveis fósseis.

“Vemos muitos problemas com credibilidade, qualidade e robustez dessas metas”, disse o co-autor do relatório Frederic Hans, analista de políticas climáticas do NewClimate Institute, um think tank alemão. Uma empresa consegue chegar a “emissões líquidas zero” se todas as emissões de gases que ainda forem causadas pela mão humana atingirem um ponto de equilíbrio com a remoção de carbono.

Muitas empresas com metas de “emissões líquidas zero” não estabeleceram ainda objectivos intermediários de emissões para antes de 2050. O relatório considera serem “inaceitavelmente baixos” estes objectivos intermediários, isto se o mundo realmente quiser cortar as emissões pela metade nos próximos oito anos, como os cientistas dizem ser necessário.

A compensação de carbono – ou compra de créditos para emissões reduzidas em outros lugares – também teve destaque entre as estratégias corporativas. Quase 40% das empresas da lista Forbes 2000 com metas de “emissões líquidas zero” planeiam usar compensações, apesar das preocupações com a falta de regulamentação.

Os governos vão precisar impor padrões e regulamentos legais para garantir um progresso no domínio das “emissões líquidas zero”, disse o co-autor John Lang, da ECIU. No momento, as empresas estão confusas sobre a parte que lhes cabe nesta matéria. “Elas não sabem quais informações devem ser divulgadas”, afirmou Lang.

Durante a cimeira em Glasgow, em 2021, as Nações Unidas criaram um grupo de especialistas não só para produzir regras de “emissões líquidas zero” para o sector privado, mas também para analisar os compromissos assumidos. A União Europeia também está a elaborar parâmetros de “emissões líquidas zero” para serem adoptados em Novembro. O texto actual impede as empresas de contar as compensações de carbono nas metas de neutralidade carbónica, por exemplo.

“Temos que ter regulamentos obrigatórios para orientá-los”, disse Lang. No entanto, o co-autor duvida que a questão possa ser resolvida antes da próxima cimeira climática da ONU, a COP27, que decorrerá em Sharm al-Sheikh, no Egipto, em Novembro deste ano. “Provavelmente não poderão ser corrigidos antes da COP28”, em 2023, afirmou.