Oito arquitectos juntam-se num filme que é um “tributo à madeira”, à memória e aos sentidos
A JJTeixeira, uma das maiores carpintarias da Península Ibérica, marca os seus 45 anos com o WoodStories, um documentário sobre madeira e arquitectura, que junta nomes como Carrilho da Graça, Aires Mateus ou o Colectivo Oitoo.
Um tributo à madeira pode desdobrar-se em vários capítulos: as memórias — ou as recordações que Francisco Vieira de Campos guarda do avô; o tempo — ou o ranger da madeira quando envelhece; o conforto — ou a madeira nas nossas casas desde que nascemos. O documentário WoodStories une oito arquitectos e ateliers para falar sobre a importância da madeira no seu trabalho e na arquitectura portuguesa. A curta-metragem, que marca os 45 anos da JJTeixeira, uma das maiores carpintarias da Península Ibérica, junta, em 15 minutos, as histórias de Aires Mateus, Carrilho da Graça, Correia Ragazzi, Depa, Diogo Aguiar Studio, João Mendes Ribeiro, Menos é Mais e Colectivo Oitoo.
“A madeira é um material que nos acompanha desde que nascemos; habituamo-nos a estar com ela em todos os espaços. Parece já fazer parte do nosso corpo”, afirma, em entrevista ao P3, Francisco Vieira de Campos, um dos fundadores da Menos é Mais.
Para Francisco, não é possível falar deste tema sem recordar o avô e a sua antiga carpintaria onde trabalhava de forma “artística, manual” as peças em madeira que hoje envelhecem em casa de alguém.
Por isso, e pela memória do que aprendeu nos escuteiros sobre a Natureza e a construção com materiais naturais, quando começou a trabalhar como arquitecto continuou atento ao que lhe ensinavam os carpinteiros, ainda que já não pusesse “as mãos na massa”. “Trabalham quase como um ourives”, compara. “São os únicos que transmitem esse conhecimento, não é na faculdade [que se aprende como tratar a madeira].”
O Colectivo Oitoo também trabalha com o que encontra ao seu redor, como Francisco quando era escuteiro, mas o que vêem é (ligeiramente) diferente: as casas não aproveitadas da cidade do Porto.
Os quatro arquitectos que compõem o colectivo intervêm em espaços já existentes, mas que não são vistos como potenciais habitações. “A primeira coisa a fazer é sempre identificar elementos que conseguimos preservar, prolongado a sua vida”, explica Diogo Zenha Morais. Muitas vezes, diz, a madeira preenche esses requisitos e pode ser reutilizada.
Diogo volta a cruzar-se com Francisco Vieira de Campos quando refere a importância de trabalhar com artesãos locais, “felizmente muitos, e bons”. “Quando é possível, acompanhamos todo o percurso da matéria-prima, a sua transformação até ao produto final. É algo que nos satisfaz porque aprendemos, discutimos, há uma troca de conhecimento”, conclui.
A mesma matéria-prima dá forma a todos os produtos da JJTeixeira e, por isso, o WoodStories “nasceu da vontade de ligar a arquitectura portuguesa ao trabalho da madeira”, explica, ao P3, Carla Maia, directora de marketing da empresa. Todos os que participaram nesta produção, garante, “partilham a certeza de que sem a madeira nenhum projecto ficaria completo”.
O filme, que começou a ser produzido no início deste ano e ficou concluído no final de Maio, foi realizado por Sara Nunes, fundadora da Building Pictures. Numa primeira fase deverá correr alguns ateliers e um festival de cinema de arquitectura, e depois será exibido para o público em geral.
“A textura, o cheiro, o som. Este apurar de sentidos faz com que a madeira seja um elemento único na construção”, diz Carla Maia, num paralelo com uma das frases do arquitecto João Mendes Ribeiro no filme WoodStories. Fala de uma relação “particular” das pessoas com a matéria-prima: “Tem a ver com o sentir da madeira, o cheiro da madeira. É um material nobre, é um material que não está morto.”