Coligações de Macron e de Mélenchon empatadas na primeira volta das legislativas

As projecções atribuem 25,2% às duas alianças, confirmando o cenário de bipolarização política. Abstenção bateu um novo recorde. Segunda volta será determinante para aferir maiorias parlamentares.

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Emmanuel Macron procurava pelo menos manter a maioria parlamentar obtida em 2017 YVES HERMAN / Reuters

A coligação do Presidente francês, Emmanuel Macron, e a aliança de centro-esquerda de Jean-Luc Mélenchon ficaram empatadas na primeira volta das eleições legislativas este domingo, de acordo com as projecções, confirmando o cenário de bipolarização antecipado pela generalidade das sondagens. A segunda volta, no próximo domingo, será determinante para se perceber se o Presidente irá conseguir garantir uma maioria parlamentar.

A primeira volta das eleições para a Assembleia Nacional não permite descortinar nenhuma maioria óbvia, o que deverá dificultar a tarefa de Macron em conseguir estabelecer uma bancada parlamentar que apoie as suas iniciativas. A coligação Juntos, de Macron, e a Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES), que junta vários partidos de esquerda, comunistas, ecologistas e socialistas, alcançaram precisamente o mesmo resultado, de acordo com as projecções da Ipsos: 25,2%.

A primeira volta das legislativas não é um bom indicador quanto à composição final da Assembleia Nacional, uma vez que grande parte dos lugares será decidida apenas no próximo domingo. Apenas candidatos que obtenham mais de 50% dos votos são eleitos logo à primeira volta, enquanto qualquer candidatura que alcance pelo menos um resultado correspondente a 12,5% dos eleitores inscritos passa à segunda volta.

A distribuição de lugares baseadas nas projecções da primeira volta atribui ao Juntos entre 255 e 295 deputados, deixando em aberto a possibilidade de a coligação de Macron não conseguir assegurar a maioria na Assembleia Nacional, que é garantida com 289 lugares. Já a NUPES, de acordo com as mesmas projecções, será a segunda força mais representada, com uma bancada entre os 150 e os 190 parlamentares.

Ao contrário de outros países, as projecções feitas pelas empresas de sondagens francesas têm como base votos contabilizados em mesas de voto já fechadas, e não em sondagens à boca das urnas, como é mais comum. Tal como esperado, a abstenção bateu um novo recorde da 5.ª República, com 52,8%. Em 2017, na primeira volta das legislativas, tinha sido de 51,3%.

Com 18,9% ficou a União Nacional, de Marine Le Pen, que alcança o melhor resultado de sempre em eleições legislativas, mas muito aquém da performance obtida nas eleições presidenciais quando a líder ultranacionalista recolheu 41% na segunda volta contra Macron. Seguem-se Os Republicanos, formação de centro-direita, que obteve 13,7%, enquanto o Reconquista, de extrema-direita, se ficou por 3,9% e nem conseguiu ver o seu líder, o comentador televisivo Éric Zemmour, passar sequer à segunda volta pelo círculo de Saint Tropez.

As projecções foram saudadas pelos dirigentes da NUPES. “Há uns meses, a esquerda estava supostamente morta e a extrema-direita parecia estar às portas do poder; agora virámos a mesa e ficámos à frente na primeira volta”, afirmou a deputada Clémentine Autain. Mélenchon congratulou-se com a “derrota do partido no poder” e apelou ao voto “em massa” nos candidatos da sua coligação que vão disputar a segunda volta.

Do lado da coligação actualmente no poder, o discurso foi mais cauteloso e apontou para a segunda volta. “Temos uma maioria presidencial que está sólida e presente em quase todas as disputas da segunda volta que, em todo o caso, servirá de clarificação”, afirmou o ministro das Finanças e candidato nas legislativas, Gabriel Attal, à France 2.

Macron tinha o objectivo de revalidar a maioria absoluta alcançada em 2017 pelo partido que acabava de fundar, o República Em Marcha. Desde que a lei eleitoral foi alterada, em 2002, trocando a ordem das eleições presidenciais com as legislativas, que nenhum chefe de Estado francês teve de governar em “coabitação”, ou seja, com um Executivo apoiado por um partido diferente. Antes, essa situação tinha ocorrido em três ocasiões durante a 5.ª República (com François Mitterrand duas vezes e Jacques Chirac).

Se não conseguir uma maioria parlamentar no próximo domingo, Macron terá de negociar o apoio dos deputados do partido Os Republicanos para conseguir fazer avançar a sua agenda legislativa. No novo quadro saído do ciclo eleitoral, a esquerda capitaneada por Mélenchon assume-se como o principal bloco de oposição ao Presidente.

Ainda durante a corrida presidencial, Mélenchon lançou a campanha para as eleições legislativas, apelando ao voto na coligação de esquerda para contrabalançar o poder presidencial e impor travões a iniciativas muito contestadas por alguns sectores sociais, como a reforma do sistema de pensões. No entanto, se a segunda volta confirmar a primazia do Juntos no xadrez parlamentar, a coligação de esquerda não poderá nomear o primeiro-ministro como ambicionava.

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