Os países-membros pagam relativamente pouco para o ITER. Nove décimos das contribuições são entregues sob a forma de componentes, sistemas ou edifícios do projecto, feitos pelas indústrias nacionais. A Europa é responsável pela maior parte dos custos de construção (45,6%) e o resto é partilhado em partes iguais pelos restantes membros. Portugal tinha, até ao fim de 2020, um valor acumulado de contratos de perto de 73 milhões de euros.
“Quando o ITER compra alguma coisa, pode fazê-lo por duas vias: ou é a agência doméstica europeia, que se chama Fusion for Energy (F4E), ou então é a própria Organização do ITER que faz compras centralizadas que são abertas a todos os membros”, explica José Antão, industrial liason officer para o ITER na Agência Nacional de Inovação. Este valor de 73 milhões de euros é relativo a compras feitas através da F4E. “Com o ITER directamente, temos um valor muito mais modesto, é cerca de 1.750.000 de euros em contractos”, adianta José Antão.
“Temos um valor mais elevado em subcontratações de empresas portuguesas. Não apresentam propostas para ganhar essas empreitadas directamente, antes são subcontratadas por empresas ou consórcios que ganharam esses fornecimentos”, explica.
A Martifer e o Instituto de Soldadura e Qualidade são as principais empresas que tiveram contratos com o ITER. A Active Space Technologies e a Blocotelha também constam desta lista. “Temos também um fornecimento que foi feito à F4E mas que não é para o ITER. Porque também há outros projectos de fusão nuclear. Neste caso, foi o fornecimento de tanques de hélio, que foi feito por uma empresa que é a Silva Matos, mas que foram para um reactor no Japão que é parte da chamada ‘broader aproach’ para o desenvolvimento da fusão nuclear”, explica José Antão.
Há também fornecimentos feitos pelo Instituto Superior Técnico, através do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN). “Tivemos vários projectos de controlo e aquisição de dados, na área da manipulação remota e robótica e em breve vamos ter projectos relacionados com a modelização, juntamente com a Critical Software”, informa Bruno Soares Gonçalves, director do IPFN.
“Os diagnósticos em que estamos envolvidos vão numa porta da câmara de vácuo, e o objectivo é medir propriedades do plasma para compreender os fenómenos que estão a acontecer. E também para ajudar ao controlo e operação do dispositivo”, explica Bruno Soares Gonçalves.
É de prever que o envolvimento das empresas portuguesas na construção do ITER continue ao mesmo nível? “Sabemos que o ITER está numa fase de transição, de construção para montagem dos componentes das máquinas que estão a ser feitas em várias partes do mundo, e isso requer obviamente serviços técnicos muito especializados, e já existem contratos para fazer isso. Já não é tão fácil haver a entrada de empresas portuguesas novas, a não ser aquelas que já lá estão”, responde José Antão.
Ainda assim, a Agência de Inovação planeia levar uma missão empresarial ao ITER. “Vamos tentar levar algumas empresas grandes, porque estamos numa fase de desenvolvimento da fusão nuclear em que já começa a haver algum interesse até das próprias empresas de produção de energia em inteirar-se do que é que aquilo, e como é que podem planear os seus portfolios para o futuro”, diz José Antão. “Talvez seja uma boa altura para começar a sentir o pulso das empresas de energia, no sentido de vermos se há ou não há interesse estratégico para o futuro.”