“A nossa pátria é o povo”, diz Marcelo no Dia de Portugal
No Dia de Portugal, o Presidente da República escolheu centrar o seu discurso num longo elogio ao povo português.
O Presidente da República discursou esta sexta-feira no Dia de Portugal, centrando o seu discurso num elogio ao povo português. Marcelo Rebelo de Sousa correu a história de Portugal até aos dias de hoje, evocando sempre a força e resistência do povo português. “A nossa pátria é o povo”, declarou o chefe de Estado, em Braga, onde decorrem as cerimónias do 10 de Junho.
“Sem o povo, sem a arraia-miúda, de que falava Fernão Lopes, não teria havido o Portugal que temos”, declarou o chefe de Estado, destacando as capacidades do povo português de unir, de receber, de conquistar e de resistir. No que toca a receber, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou a forma como o povo português recebeu africanos, brasileiros, europeus de Leste, asiáticos, afegão e agora ucranianos. E a forma como, também mais recentemente, foi “resistindo à pandemia”.
“Portugal é o seu povo”, começou por dizer Marcelo Rebelo de Sousa que defendeu que é “justo” que o Minho celebre o “nosso povo”. “Aqui” constitui um “pilar essencial da nossa portugalidade”, disse, acrescentado que foi ali que começou a “aventura colectiva” da separação do território e de não mais parar na afirmação nacional. O Presidente disse mesmo que “se é verdade” que as páginas dos livros estão cheias de histórias sobre “os seus soberanos, os seus líderes, os seus chefes”, sem o povo nada teria sido possível.
Embora aquele tenha sido o início dos inícios da história do povo, os feitos dos portugueses não se ficaram por ali, defendeu, lembrando as conquistas dos portugueses mundo fora, pelos oceanos. Num salto para a actualidade, declarou: “E que ano este de 2022 para evocarmos o nosso povo. O povo português. Já não apenas na história antiga, na história de anteontem, mas na história de ontem e de hoje.”
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou alguns momentos em que o povo português era reconhecido. Há dois séculos, Portugal “continuava a ser uma monarquia”, “mas a nossa monarquia em que o rei passava a basear o seu poder na soberania da nação” e uma constituição escrita “limitava os poderes do rei, consagrava direitos pessoais e políticos”. Nesse mesmo ano, de 1822, o Brasil assumia a vontade pela sua independência - o “começo do fim do nosso império colonial” - e o povo também aqui teve um papel essencial: um povo “que se desdobrou em dois”, “com a naturalidade do que era inevitável”. Em 2002, outro momento - a independência de Timor, “no qual o povo português esteve todo a 100% unido”. Também aqui um povo “sempre presente”.
Não esquecendo as qualidades de recepção do povo, e povos que chegam de outros países, Marcelo Rebelo de Sousa falou também do povo português que através das missões das forças armadas ajuda a construir a paz noutros países.
“Este povo que tão depressa e bem sonha, que aprendeu a viver em democracia, apesar de séculos de monarquia absoluta, depois de períodos de ditadura”, disse, lembrando depois os que emigraram - “os que arriscaram” -, recordou Marcelo, para concluir: “É o povo português a razão de sermos o que somo e como somos”.
O que disseram os partidos
A partir de Braga, Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, considerou que o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa foi “um discurso de unidade” e centrado “no povo português e na sua História”, assinalando a referência às Forças Armadas.
Por sua vez, André Coelho Lima, do PSD, considerou o discurso “patriótico e até incomum”, influenciado pela guerra na Ucrânia e que reflecte a “apologia da importância militar e do povo”. “Neste momento entendeu que não era para fazer uma análise política da actualidade”, acrescentou o social-democrata.
Pelo Chega, André Ventura elogiou o discurso, lamentando não ter ouvido referências à seca que o país atravessa ou as falhas na resposta à Saúde e Justiça. “Faltou algum discurso de crítica construtiva”, considerou Ventura. Pelo PAN, Inês de Sousa Real também sentiu falta de uma análise dos problemas que marcam a actualidade, nomeadamente em relação à pobreza e aos números da violência doméstica. “O Dia de Portugal é uma evocação do que temos de melhor, mas também deve ser uma reflexão do que temos pela frente, para tornar o país mais justo e empático”, disse Inês de Sousa Real.
Ausente das cerimónias por “motivos de saúde”, o primeiro-ministro não quis passar ao lado do Dia de Portugal e deixou uma breve mensagem no Twitter. “No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, saúdo todos os portugueses que, pelo mundo, comemoram a nossa língua, a nossa cultura, a nossa história e tudo o que constrói a identidade de um povo. Celebramos Portugal e continuamos a trabalhar por um país melhor”, escreveu.